quarta-feira, agosto 19, 2020

"O Fotógrafo que Fazia as Pessoas Bonitas"


Ontem contaram-me uma história deliciosa, que nem sequer tentei confirmar, para não quebrar a quase "magia" das palavras.

Uma conversa normal sobre retratos fez com que uma amiga recordasse a avó materna, que sempre morou no Barreiro, localidade onde passou algumas férias inesquecíveis na meninice.

Ela estava no começo da adolescência e como precisava de tirar fotografias tipo passe para  renovar a matricula, a mãe  telefonou à avó, para combinar a melhor hora para a vir buscar. 

A avó disse que não era preciso, também havia fotógrafos no Barreiro. Acrescentando de seguida que havia um, que era tão bom, que até conseguia que as pessoas feias ficassem bonitas nos retratos que tirava.

A mãe veio buscá-la mas nunca esqueceu esta história e ficou sempre com pena de não ter conhecido "o fotógrafo que fazia as pessoas bonitas".

Estava a falar, nada mais nada menos, que do mestre Augusto Cabrita, o  fotógrafo preferido da Amália...

Adorei esta quase confidência, sobre um das poucas pessoas das culturas de quem nunca ouvi ninguém dizer mal (nem mesmo fotógrafos...).

(Fotografia de Luís Eme - Barreiro)

4 comentários:

  1. Era uma pessoa amável e simpática. Lembro-me de bem menina, ficar fascinada com as fotos exibidas na montra do estúdio.
    Abraço e saúde

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    1. Era um grande homem das culturas, Elvira, e não apenas das imagens.

      E um amigo único, segundo os testemunhos.

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  2. Sammy, o paquete19/08/20, 20:10

    Nos finais das tardes de segunda-feira, terminado o alinhamento do Juvenil, os passos do Mário Castrim, estendiam-se para a Pastelaria Orion, ali no cimo da Calçada do Combro: um copo de leite, torrada, a que se seguia uma bica escaldada.
    Ali ficávamos à conversa.

    «Chamava-se
    Orion o café
    onde encontrava à tardinha
    A minha última namorada.»
    (Mário Castrim em «Poemas do Avante»
    Numa dessas tardes de segunda-feira, já com um pé na Rua Luz Soriano:
    - O Augusto Cabrita está à nossa espera.
    A ideia era fazer um dos Encontros do Juvenil com a exibição do «Belarmino» do Fernando Lopes.
    Foi a única vez que privei com Augusto Cabrita.
    Fiquei com a sensação estranha que há homens que não são deste mundo.
    Uma humildade desconcertante, um rosto quase a pedir desculpa do que tem para dizer e admite que o que diz não tem importância para quem ouve.
    Não se consegue desviar o olhar, face a um rosto daqueles.
    As fotografias do Augusto Cabrita reflectem o homem que sempre foi: atento, sensível, aquele perfume a neo-realismo, que tantos e tantos não gostam - nunca gostaram! - de cheirar.
    Uma verdade frontal em cada fotografia tirada ao quotidiano do povo, a dureza da vida das gentes do seu Barreiro.
    Uma ternura desarmante, um olhar único e tocante.

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    1. Sim, Sammy, o Augusto Cabrita, era do "planeta das boas pessoas", que por vezes se sentem a mais nesta "selva" onde vivemos.

      Sim, ele retratava o melhor de cada um de nós (mesmo que isso não fosse bem a "beleza" do meu texto...).

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