Eu escutava-o curioso, enquanto ele ia passando de mão em mão, as fotografias dos quadros que tinha. Eram mais de duas centenas. Só uma dúzia é que estava exposta nas paredes de casa, o restante estava armazenado na sua quase "garagem-forte".
Alguns eram bastante valiosos... e isso é que contava.
Mas foi sempre vendendo e comprando. Quando tinha um quadro que se valorizava mais, por isto ou por aquilo, vendia-o.
Foi futebolista durante mais de quinze anos. Mesmo sem ter sido uma "prima dona", jogou durante largos anos na primeira divisão e ganhou uns "cobres". Graças a um tio, antiquário, começou a investir em arte desde cedo (afinal não foi apenas o Artur Jorge ou o Oliveira que se habituaram a coleccionar quadros...).
Durante a conversa, nunca notei que houvesse por ali, algum orgulho, por ter uma obra deste ou daquele pintor. O seu entusiasmo fixava-se apenas no dinheiro. O importante era ter um quadro que tinha comprado por quinhentos contos (muito gosta ele de falar em contos...) e agora valia quarente vezes mais. Sem qualquer dúvida que eram animadoras, todas estas contas de multiplicação, mas...
Não era preciso ser muito inteligente, para perceber que ele nunca coleccionara obras de arte. Coleccionava sim, dinheiro.
Ao contrário de tantos outros futebolistas, que nunca "amaram" o dinheiro e abandonaram os estádios com os bolsos quase tão vazios, como quando iniciaram a carreira... ele nunca esqueceu o que o avô lhe costumava dizer, que o dinheiro chamava dinheiro... desde que fosse usado com "cabeça".
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
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