Conhecia Fernando Lopes, sobretudo da televisão, como o senhor "RTP2", canal que ajudou a fundar e foi seu principal responsável nos anos 1980, provavelmente com a melhor programação da sua história.
No começo dos anos 1990 trabalhava no "Record" e tinha uma página dominical, o "Contra-Ponto", na qual entrevistava uma pessoa ligada ao desporto e outra fora, e depois invertia os temas. Com alguma naturalidade entrevistei Fernando Lopes, que tinha realizado o melhor filme português sobre desporto (embora fosse muito mais que isso...), o célebre, "Belarmino", um quase retrato de um boxeur errante de Lisboa, que se deixou fintar pela vida...
Este encontro foi delicioso, porque falámos de muitas coisas, que ficaram fora da entrevista. Fiquei com a sensação de ter conversado com um homem extremamente culto e também muito inteligente.
Meses depois (quatro, cinco...), estava a jantar no "Ribadouro" com dois amigos, quando olhei para a entrada e reparei que estavam a entrar o Fernando, o José Cardoso Pires e outro companheiro, menos conhecido, que não consegui identificar.
Continuei a jantar, quando sou surpreendido pelo Fernando, que deixou por momentos os dois amigos para me vir cumprimentar à nossa mesa. Ainda o consigo ouvir com a sua voz forte, «Boa noite, Luís. A entrevista ficou muito boa. Gostei muito.»
Fiquei meio encavacado, mas ao mesmo tempo muito feliz pela simplicidade daquele homem, que podia passar sem reparar em mim, mas... não podia, porque gostava das pessoas (boas e más) com quem se cruzava.
Ia escrever sobre as obras literárias que adaptou ao cinema e acabei a falar de mim (é verdade, o blogue é meu, posso falar de mim à vontade...). Sim, de "Uma Abelha na Chuva" (1971), que falei anteriormente, de Carlos de Oliveira, "O Fio do Horizonte" (1993), de António Tabuchi e "O Delfim" (2001), de José Cardoso Pires. Não foi por acaso que fez estes três filmes, baseados nos livros de três amigos.
Nunca mais voltei a encontrar o Fernando. Mas nunca esqueci aquele olhar brilhante e aquela voz forte, que irradiavam tanto companheirismo e ternura.
há gestos que nunca se esquecem.
ResponderEliminar:)
bom dia, Piedade. :)
ResponderEliminar(o sol está a fintar a chuva lá fora)