segunda-feira, março 03, 2025

Uma visão e uma memória, dentro e fora de um bairro antigo...


Estava a passar por uma ruela estreita, com roupas estendidas em quase todas as varandas, quando comecei a ouvir uma voz feminina, que cantava um fado. Ainda olhei para cima para ver se a voz tinha dona, mas não descobri ninguém. 

Por alguns instantes, fiquei deliciado com aquele retrato de uma Lisboa antiga, e pus-me a imaginar uma cidade que já não existe...

Foi quando me cruzei com dois casais de gente de fora, que anda de calções num dia de Março com nuvens. Foi como se me dissessem, "acorda!"

E acordei, mas por pouco tempo.

De repente já não estava em Madragoa. Foi quando viajei pela minha meninice e ouvi a minha mãe a cantar, e o pai, com voz de desdém, a dizer que ela estava a adivinhar chuva. Não percebia quase nada da conversa mas gostava de ouvir a minha mãe a cantar, mesmo que ela fosse fiel à sabedoria popular, e acreditasse que "quem canta seus males espanta"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


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