sábado, junho 15, 2024

«Somos todos malucos. É por isso que continuamos aqui, à espera do Godot...»


Muitas vezes fico sem muitas palavras para meter nos diálogos, quando converso com amigos. Parece que fico preso àquela frase velha e gasta de que, "só sei que nada sei". 

Talvez seja por isso que gosto do depois. Sim, é o depois que me faz acordar com uma vontade imensa de escrever, no dia seguinte e nos outros, sobre as pontas soltas e as outras.

Pois é, a noite tanto é boa como má conselheira.

Aquecia o café e não me saía da cabeça a proximidade daqueles amigos teatreiros com a "Avenida do Brasil". Foi a Rita que disse, num ar alegre, com a concordância geral: «Somos todos malucos. É por isso que continuamos aqui, à espera do Godot...»

Sim, mas além da tal loucura, deve ser preciso alguma dose de marginalidade, e até ausência de amor próprio, como se sentiu no desabafo do Ricardo. A "sopa" que os alimenta, deve ter ainda mais ingredientes, para os ajudar a viver tantas vidas diferentes, esquecendo o "Eu", que é nada mais nada menos, que o primeiro rosto que encontram quando se olham ao espelho de manhã (que quase nunca é de manhã...), e dizem para ele, «estou uma desgraça», como nos contou a Ana a sorrir.

Por serem parecidos com os palhaços, tão são capazes de rir com as coisas sérias, como de chorar, a fingir, porque a personagem que encostaram à pele é ainda mais melodrámatica que eles...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


4 comentários:

  1. Podem ser malucos mas são uns artistas!

    Abraço

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    1. E são cada vez menos respeitados (tal como todos nós), Rosa.

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  2. Querido Luís.
    Foi tão bom saber de ti!
    Não sei porquê, há sempre um medo que nos assalta nos regressos, depois de largas ausências, à casa que habitámos durante outros tempos. Talvez a incerteza de já não encontrar os elos àqueles que são(foram) voz, espelho, até colo. E remetendo-me para o teu post, creio ser também a assunção de múltiplos personagens, uma fuga desenfreada ao confronto com o eu. Porque esse confronto nos incomoda, nos dá a constatação do limite e da consequência. Estamos sim, existencialmente absurdos, permanentemente sebastianicos, dramaticamente ausentes.
    Um abraço, feliz, de presente e de memória.

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    1. Que bom ler-te aqui, Luísa.

      Somos quase estranhos. Quase iguais à vida...

      abraço


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