quarta-feira, novembro 16, 2022

Homenagem a Saramago no Dia dos Seus Anos...


Nada melhor para festejar o Centenário do nascimento de José Saramago, que republicar um texto felix que escrevemos (é mais longo que o costume...), quando o escritor foi laureado com o Prémio Nobel da Literatura, para o boletim "O Scala" (n.º 8, Verão de 1998):

«Foi com com grande alegria que vimos José Saramago deixar o hall de entrada da sala, destinada aos eternos perdedores do Prémio Nobel da Literatura, com a serenidade que o caracteriza, depois de ser “Levantado do Chão” pela Real Academia Sueca da Língua.

O país voltou a sorrir de satisfação – e com a Expo 98 ainda tão perto na nossa memória... -, ao ponto de transformar a vitória de Saramago, num êxito de todos os portugueses. Foram erguidas bandeiras de Norte a Sul, levando bem alto “Todos os Nomes” deste escritor, digno herdeiro de Camões, Eça, Camilo, Pessoa, Aquilino e Torga.

A Escandinávia dobrara pela primeira vez a coluna à língua portuguesa. Depois de um longo “Ensaio Sobre a Cegueira”, acabou por reparar uma  injustiça quase do tamanho deste século.

Embora Saramago seja um caso à parte, se fizermos uma “Viagem a Portugal”, encontramos uma mão cheia de poetas e ficcionistas que também poderiam ter sido inscritos nos “Apontamentos” da Academia Sueca.

Quando dizemos que ele é um caso à parte, estamos a basear-nos  num estranho casamento das Letras com Números que nos prova que Saramago é o escritor português vivo, mais conhecido e lido no mundo inteiro.

A sua obra literária é um manancial de estórias sobre a nossa História, “Deste Mundo e do Outro”, não sendo por isso de estranhar que alimente algumas polémicas. E quando se fala de coerência – uma palavra usada para dignificar Saramago e todos os seus camaradas que se mantém fiéis ao comunismo --, devemos fazer uma vénia ao Município de Mafra que continua a defender que “O Memorial do Convento” ofende o bom nome dos seus habitantes; e ao Papa, que  ao folhear “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, continua a perguntar a Deus com um olhar triste e angélico, “Que farei Com este Livro?”, por manterem vivas as suas opiniões divergentes em relação ao escritor.

Mesmo sabendo que este não é o melhor momento para  falarmos da nossa taxa de analfabetismo, não devemos esconder a nossa triste realidade usando o Nobel da Literatura como peneira.

Saramago sentiria, “Provavelmente Alegria”, se usássemos o seu Prémio para sensibilizar os portugueses a visitarem o campo aberto das letras, mostrando-lhes o poder da luz “Poética dos Cinco Sentidos” que nos ilumina nas nossas viagens deliciosas pelo interior dos livros.

E se nos fosse permitido sonhar, gostaríamos que o Nobel produzisse o mesmo êxito na Literatura que as medalhas milagrosas de Carlos Lopes e Rosa Mota obtiveram no Atletismo, fomentando de uma forma avassaladora a leitura nas escolas e nos lares portugueses, arrebatando toda “A Bagagem do Viajante” de Lanzarote e de outros grandes escritores.» 

(Foto de Luís Eme - Lisboa)


10 comentários:

  1. Bom dia
    Por tudo o que aqui foi escrito e por mais ainda , independentemente de se gostar dele ou não merece sem dúvida ser lembrado e homenageado .

    JR

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    1. É um grande escritor, que nunca se ausentou da "vida", Joaquim.

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  2. Um texto muito bem conseguido mas onde eu também meteria A Caverna e A Jangada de Pedra, o 1° que li dele e logo me fascinou.

    Abraço

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  3. Também lembrei Saramago hoje no Sexta. Gosto muito da poesia dele, Tenho "Os Poemas Possíveis" que adorei ler. Depois li "O Memorial do Convento" e como não gostei levei alguns anos sem ler mais nenhum livro dele. Entretanto vi "Levantado do Chão" na biblioteca da Universidade Sénior e requisitei-o. Adorei e reconciliei-me com a sua escrita. Mais tarde li "Jangada de Pedra" e" A maior flor do mundo" . Infelizmente o estado dos meus olhos nos últimos 4 anos não me tem permitido ler muito.
    Abraço e saúde

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    1. É um grande escritor, nada fácil, pelo menos às primeiras, Elvira. :)

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  4. Conheci um pouco da poesia de Saramago através de Luis Cília. Aqui fica.

    «Não me peçam razões»
    https://www.youtube.com/watch?v=LJf8La6v2Xg

    «Há-de Haver»
    https://www.youtube.com/watch?v=OLBSeTJrto0

    «Dia Não»
    https://www.youtube.com/watch?v=pc_uHbgd_-I

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  5. Na primeira vez que peguei no "MEMORIAL DO CONVENTO" larguei à pág.50; numa 2.vez li-o quase de seguida em 2 noites. Fantástico!

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    1. Olha só o que "cresceste" como leitor, Severino. :)

      Há muitos livros que lemos na altura errada e...

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