A verdade, é que até se torna mais agradável ter uma conversa com vozes, seja via telemóvel, seja à mesa do café. Porque acabamos sempre por falar de outras coisas, não menos interessantes.
Quando a Teresa chamou a Pilar de "oportunista", a propósito do que escrevi sobre as três mulheres de Saramago, não concordei. Embora até fosse verdade (mas não com aquele peso), porque os encontros que temos com os outros, muitas vezes são oportunidades. Mas neste caso penso que o "sentido de oportunidade" foi mútuo, acabando por ficar a ganhar tanto um como o outro (não vou medir, quem ganhou mais...).
Aliás, para um escritor, uma das coisas mais gratificantes que devem existir, é alguém se aproximar de nós, por causa dos livros, para falar das histórias e das personagens que inventamos, para dar corpo e alma ao romance, à novela ou ao conto, que vão crescendo dentro de nós...
(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)
Joaquim Vieira – histórias antigas - não gosta de José Saramago, mas acenaram-lhe (ano de 2018) para escrever um livro sobre o autor, e não hesitou.
ResponderEliminarChama-se o livro «José Saramago: Rota de Vida».
No livro existem largas páginas dedicadas ao facto de José Saramago gostar de mulheres. Há mesmo um capítulo, o 6º, com as suas 30 páginas, que Vieira não resistiu à tentação de titular: «O Pinga-Amor».
Em 1977, François Truffaut realizou L'Homme qui aimait les femmes.
É do filme que se lembrou quando leu o rol de mulheres que andaram com, por, Saramago, mulheres por quem mostrou amor, simpatia ou quaisquer rituais de sedução.
Só Saramago saberia dizer o porquê, se a tanto achasse útil ou necessário.
Mas este texto do Luís, o anterior também, leva-o a lembrar que, em «As Pequenas Memórias» já Saramago em garoto gostava do que tinha de gostar e, ternamente, deliciosamente, recorda-o na página 42:
« Quanto à Domitília, fomos apanhados, um dia Quanto à Domitília, fomos apanhados, um dia, ela e eu, metidos na mesma cama, a brincar ao que brincam os noivos, activos, curiosos de tudo quanto no corpo existe para ser tocado, penetrado e remexido. Pergunto-me que idade teria nessa altura e creio que andaria pelos onze anos ou talvez um pouco menos (na verdade, é-me impossível precisar, pois morámos por duas vezes na Rua Carrilho Videira, na mesma casa). Os atrevidos (vá lá a saber-se qual de nós teve a ideia, ainda que o mais certo é que a iniciativa tenha partido de mim) apanharam umas palmadas no rabo, creio recordar que bastante pró-forma, sem demasia da força. Não duvido de que as três mulheres da casa, incluindo a minha mãe, se tivessem rido depois umas com as outras, às escondidas dos precoces pecadores que não tinham podido aguentar a longa espera do tempo próprio para tão íntimos descobrimentos. Lembro-me de estar na varanda das traseiras (um quinto andar altíssimo), de cócoras, com a cara metida entre os ferros, a chorar, enquanto a Domitília, na outra ponta, me acompanhava nas lágrimas. Mas não nos ficou de emenda. Uns anos depois, já eu morava no número 11 da Rua Padre Sena Freitas, ela foi visitar a tia Conceição, e o caso é que não havia ali tia nem tio, nem meus pais estavam em casa, graças ao que tivemos tempo de sobra para acercamentos e investigações que, embora não chegando a vias de facto, deixaram inapagáveis lembranças a um e a outro, ou pelo menos a mim, que ainda daqui a estou a ver, nua da cintura para baixo.»
Pois é, isto só vem reforçar o que penso, Sammy. Bem agradecido "às suas mulheres", retrata-as de uma forma extremamente humana nos seus livros.
EliminarClaro que ao vivo os comentários são mais interessantes, porque palavra puxa palavra ou as conversas são como as cerejas.
ResponderEliminarAbraço
É isso mesmo, Rosa. :)
EliminarNão o apreciava nada como homem, esteticamente falando, claro!
ResponderEliminarNão percebo, do meu ponto de vista, o seu " sucesso" com as mulheres...
Provavelmente, muita "lábia", Maria. :)
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