A minha viagem pela memória é traída pelo desabafo de um dos meus companheiros, revoltado com este tempo dos costas e dos marcelos, que olham para o mundo com um sorriso, porque a sua vida continua a ser um enorme fingimento. Para eles o mundo nem sequer faz sentido sem pobres. Não imaginam a geografia humana das cidades sem os "sem abrigo", a quem de vez em quando dão uma sopa, uma sandes e dois dedos de conversa, guiados pelos "bons samaritanos" dos "bancos alimentares" deste país, cada vez mais curto...
Noé foi ainda mais longe (continuo sem saber se é nome ou alcunha...) e ofereceu-nos um retrato de como começamos todos a viver, mesmo os que pensam que não são pobres (como eu...): «Descubro que sou um pobretanas, todos os dias. Começa logo no primeiro banho, quando descubro o frasco de champô vazio e não existe uma embalagem nova. A tragédia continua quando vou lavar os dentes e a pasta está toda espremida e não existe uma de reserva. As coisas só pioram quando abro o frigorifico e vejo o seu fundo, com uma nitidez, que até dói..»
Ninguém foi capaz de sorrir nem de quebrar o silêncio, que durou uma dúzia de segundos que pareceram minutos.
Aproveitei a passagem de um casal de estrangeiros, de calções e mochila, pela esplanada, para pintar o "quadro" com cores ainda mais escuras: «Tudo indica que o país que não era para velhos, também não é para portugueses...»
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Não exageremos!
ResponderEliminarAbraço
Se se mente com a maior das facilidades, nos dias de hoje, Rosa, também acaba por normal usarmos uma "lente" de aumentar, nas conversas que vamos tendo, aqui e ali...
EliminarEstou totalmente de acordo! Já não suporto os turistas em Lisboa!!
ResponderEliminarO problema maior é eles serem mais bem tratados que nós, até pelo Estado (que dizem que somos "nós"...), Maria.
EliminarVamos ter esperança. Hão-de vir melhores dias.
ResponderEliminarUma boa semana com muita saúde.
Um abraço.
Pois, como diz o nosso fado, enquanto há vida há esperança, Graça. É o que nos resta...
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