É por estas e por outras, que a democracia começa a perder adeptos, aqui e ali. Evita-se falar de Salazar, embora comece a existir alguma unanimidade (dos historiadores do lado direito...) de que nunca fomos um país fascista. Um dos argumentos, é que se "matou, prendeu e torturou pouco". Outro, é de que não éramos obrigados a fazer parte das instituições fascistas criadas nos anos trinta (Mocidade, Legião...), o que é mentira. Havia represálias para quem se recusasse a fazer parte destas e doutras instituições, que apelavam a um patriotismo quase cego.
Uma amiga que está a fazer uma tese de doutoramento sobre a o que mudou entre nós, com a perda de influência da trilogia "Deus, Pátria e Famílía", fez-me uma entrevista, queria saber o que eu pensava sobre o assunto.
Disse muitas coisas, andei por vários lugares. E no fim disse: "Hoje somos mais livres mas vivemos mais perdidos."
Andámos quase em todo lado. Foi uma boa viagem. É por isso que prometo escrever sobre algumas das coisas que falámos, durante a semana.
(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)
Todo o mundo é feito de mudança, umas boas, outras nem por isso!
ResponderEliminarAbraço
É mesmo Rosa.
EliminarÉ pena repetirmos tantos erros, e a facto de "errar ser humano" não explica o que se passa no mundo...
Estou inclinada a concordar com o título no que diz respeito a Portugal , pois o Luis a ele se estava a referir.
ResponderEliminarHá outros países onde a população se sente assim... outros, como o Canadá, onde ainda não temos essa perceção. : )
Quando disse essa frase, foi porque se tem desvalorizado muito o papel de várias instituições, cujo "poder" estava assentes em silêncios e mentiras, Catarina.
EliminarO desejo de nos libertarmos, foi deixando marcas...
E eram e são instituições com grande peso social. Inclusive a própria família.
«comece a existir alguma unanimidade (dos historiadores do lado direito...) de que nunca fomos um país fascista»
ResponderEliminarAinda se fosse apenas pedantismo por parte dos tais historiadores ...
Não me admira que esses historiadores queiram "limpar" a história das atrocidades do fascismo.
ResponderEliminarEles acreditam que nós não temos memória.
Abraço e saúde
A mim também não, Elvira.
EliminarFingem que não éramos um país de partido único, que silenciava, prendia e torturava quem tinha ideias diferentes, através da acção de uma polícia secreta e da censura...
Penso que uma das diferenças do fascismo português é que, em termos relativos, excluiu mais do que arregimentou à força e submeteu pela violência. Deixou de parte uma boa parte da população sem acesso à educação, aos cuidados de saúde e a uma alimentação adequada. Uma das razões é uma nítida diferença de escala: nos tempos áureos dos fascismos italiano e alemão, Portugal tinha uma indústria incipiente. Se tens um Estado fascista à cabeça de um grande complexo militar e industrial, ao mesmo tempo que a tua burguesia tem dificuldade em obter mais valias, é claro que vais querer submeter violentamente uma enorme população operária. Esta era, em termos relativos, menos importante em Portugal daí os níveis de violência e de opressão serem comparativamente brandos. Mas inegavelmente violentos, em todo o caso. As diferenças foram de ordem contingente e não essencial. Em Portugal, dava para ter um ar mais aristocrático, menos populista. Mesmo assim, ao nível da simbologia havia muitas semelhanças e a admiração confessa de Salazar por Mussolini é conhecida. Os objectivos eram os mesmos: reprimir a capacidade reinvindicativa das classes trabalhadores para mimar e aconchegar a alta burguesia.
ResponderEliminarEm certa medida, foi isso, Miguel.
EliminarAproveitaram-se da ignorância e da falta de exigência (ou da brandura) das pessoas.
Como ainda vivíamos segundo a estrutura dos regimes feudais (especialmente nas aldeias...), tudo foi mais fácil.
Mas daí a dizer-se que não tivemos uma ditadura ou que não vivemos no fascismo...