Manuel António Pina, além de extraordinário poeta, era um dos melhores cronistas do quotidiano (para mim era o melhor...), e não precisava de usar muitas palavras para chegar ao "sítio certo", quase sempre com ironia.
Hoje, por um mero acaso, "encontrei-o", numa "Visão" de Outubro de 2004, onde andava à volta de "Um país de presidentes"...
Começou a crónica assim: «Às vezes, assistindo ao telejornal, pergunto-me sobre quantos presidentes por metro quadrado haverá no País (nos telejornais aparecem habitualmente quatro ou cinco por notícia quadrada...)»
E às tantas recorda: «Nas paredes de escolas e liceus do antigamente avultava um sensato e presidencial conselho de Salazar: "Se soubesses o que custa mandar, preferias obedecer toda a vida". Surpreende por isso o espírito de sacrifício de tantos portugueses hoje dispostos a carregar o fardo de mandar, Há anos, um ministro dos Negócios Estrangeiros foi ao ponto de aceitar o cargo mesmo sabendo, conforme viria nos jornais, que o que ganhava no Governo mal lhe dava para pagar os charutos; e, apesar disso, ninguém lhe ergueu uma estátua ou lhe escreveu uma ode! E portugueses excepcionais como o major Valentim Loureiro ou o eng.º Mira Amaral, que exercem dúzias de presidências ao mesmo tempo, têm ainda que arrostar com a ingratidão e a incompreensão dos contemporâneos!»
E mais não digo (o bom do Pina disse quase tudo...).
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Está tudo bem axim e não podia xer doutra forma...
ResponderEliminarComo esta crónica prova, José Francisco, mudou tudo muito rápido...
Eliminar(E multiplicaram-se os pequenos ditadores, que metem palavras democráticas nos seus discursos)
Manuel António Pina grande jornalista, grande escritor, grande poeta, grande cronista!
ResponderEliminarCreio que apenas li dois livros dele e lembro-me apenas que gostei imenso do CRÓNICA, SAUDADE DA LITERATURA.
Prémio CAMÕES!
Era um homem (que me parecia) que transpirava humanidade, amor, solidariedade e tudo o que de bom pode emanar de um homem bom.
Sim, Severino, nunca usou "sapatos altos", quis ver o mundo ao nível dos outros.
EliminarMas os seus "óculos" ajudavam-no a ver melhor as coisas do dia a dia e a escolher palavras bonitas para os seus poemas...
Saudades das crónicas de MAP no DN... (Por acaso tenho o seu livro de Crónicas. Uma maravilha!)
ResponderEliminarOlá Graça. Bons olhos a vejam aqui no Largo. :)
EliminarTambém sinto saudades do seu olhar tão atento (no JN).