domingo, março 22, 2015

Quando os Poetas foram Empurrados para a Mesa de "Ping-Pong"


O Dia Mundial da Poesia foi ontem mas os poemas acontecem todos os dias, porque os poetas não dormem, mesmo quando se esticam na cama e fecham os olhos.

E às vezes até se discute a poesia e os poetas à mesa do café (que até pode ser a tasca do Xico, com tremoços, imperiais ou taças de tinto...), porque a poesia tem muitas portas para entrarmos e sairmos, para satisfação de todos nós.

O Adriano queria  impor quase à força a ideia que para se fazer um bom poema, tinha de se dar um bom "trambolhão" na vida, e que não precisava de ser uma queda de um quinto andar, podia ser apenas o "abraço" a qualquer poste ou um "mergulho" na calçada. O Ruca concordou, eu, o Carlos e a Rita, nem por isso.

Foi então que saltaram para a mesa exemplos vivos, histórias de pessoas que conseguiram o milagre da transformação de palavras vulgares em bonitas, "jogadas" de um lado para o outro, como se fossem bolas de "ping-pong".

O Camões e o Bocage foram os primeiros a vir a jogo, devido à sua opção de viver no "cu do mundo". Não precisámos de recuar tanto na história para falar de Sophia ou de Gedeão. Depois veio o Pacheco, dissemos quase em coro, que esse não era poeta, era só "maldito". Eles insistiram com o Herberto, nós oferecemos-lhe a liberdade, por que ele simplesmente não jogava aquele, ou outro jogo, apostado na sua não existência enquanto gente. 

Eles pensaram que o Fernando, com todas as suas "pessoas" ia desempatar de vez. Mas estavam enganados. A cirrose também era um trambolhão, mas nem todos os poemas e heterónimos do nosso génio nasciam dentro de um copo de bebida forte.

Muito mais gente apareceu de um lado e de outro. O Antero, o Eugénio, a Natália, o Ary, o Júdice, a Luiza, o Pina, a Fiama, o David... até que o  "jogo" acabou, não por desistência, mas apenas por falta de entendimento.

Felizmente percebemos a tempo que os poetas não são "bolas de ping-pong" e que os "trambolhões" na vida são de toda a gente e não apenas de quem escreve poemas...

Escolhi este óleo de Diane McLean, porque a única coisa que ninguém teve dúvidas, é que a poesia é uma mulher, que tanto se veste como despe à vida...

6 comentários:

  1. Bonito texto. Se os trambolhões da vida fossem condição para se ser poeta, que grande poeta teria sido meu pai. E ele nunca escreveu uma linha. Bom, na verdade, diz que escreveu belas cartas de amor a minha mãe, que coitada, nem sabia ler. Nunca as vi. Minha mãe contou que as rasgou de raiva quando a pessoa que lhas lia, começou a dizer que meu pai era um lunático.
    Um abraço e bom Domingo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. nem toda a gente consegue ver a poesia da vida, Elvira...

      Eliminar
  2. bonito texto.
    ser Poeta é simplesmente ser, acho eu!
    boa semana.
    beijinho
    :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. é mais que ser, Piedade.

      tem de saber dançar com as palavras. :)

      Eliminar
  3. Os poetas são pessoas como as outras ...não precisam de se rir à gargalhada ou andarem tristes e macambúzias.Só que olham para o mundo um bocadinho de maneira diferente...e fazem nascer palavras especiais ao contarem Coisas do Mundo.É só um jeito especial de tamborilarem com os dedos as palavras que têm lá Dentro.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. então não são uns tipos "maluquinhos"?

      (que alívio, Nia)

      Eliminar