quinta-feira, março 26, 2015

Conversa para Surdos


Ele sabe que nem sempre conseguimos fazer comparações felizes, mas mesmo assim insistiu em tratar o Vento de "chato", mais uma vez. Não tinha achado piada à sua voz forte e insistente nos últimos dias, como se não quisesse que mais ninguém "falasse".

Chato ou não nem assim o Vento conseguiu que lhe prestassem atenção, até lhe fechavam janelas e portas na cara, chateados por não desistir de "chatear". Deve ter sido por isso que foi aumentando o tom da "voz". Percebia-se que estava irritado, talvez por não lhe darem um minuto de atenção, passarem por ele a correr por ele, quase a quererem tapar os ouvidos, para  não escutarem a violência e crueza do seu sopro.

Não percebi se se cansou do esforço, ou se simplesmente foi embora, cansado da nossa falsa indiferença.

Nada de muito estranho neste tempo em que enfiamos coisas nos ouvidos para não termos de ouvir quem passa ao nosso lado, e então o Vento...

Mas pelo menos os barcos que navegam no rio hoje podem deslizar sem ajudas desnecessárias e pouco prudentes, tal como as gaivotas podem planar sem usaram "travões"...

O óleo é de Albert Marquet.

2 comentários:

  1. «Nada de muito estranho neste tempo em que enfiamos coisas nos ouvidos para não termos de ouvir quem passa ao nosso lado...» Não suporto essa moda!! Então a miudagem exagera. Se bem que há uns anos uma (estúpida) de uma colega lá na escola teimasse em estar presente nas reuniões de avaliação com phones nos ouvidos...

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  2. Parece que está a querer regressar. Pelo menos por aqui.
    Um abraço e bom Domingo.

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