quinta-feira, junho 29, 2023

Quando o Vento Sopra e Acorda os Sentidos...


Tudo começou de manhã, cedo. 

Acordei com o seu sopro forte, que poderia muito bem ser um rugido. O Vento era mais uma vez, o porta-voz da natureza, e dizia que podia quase muito.

E durante o dia fez-nos o favor de ir varrendo a tal nuvem gigante que chegou do Canadá, cujos vestígios dos incêndios pintaram o céu de um amarelo quase acinzentado. Durante a tarde olhei para o espaço e da janela do lado sul já se via o azul, ao contrário da janela norte (curiosamente, virada para o rio).

O melhor estava reservado para a noite. A Lua voltou, tal como as Estrelas, que são possíveis de avistar da minha janela com toda a nitidez, graças à largueza Tejo.

Até apetece dizer que o melhor "Rio do Mundo" faz com que quase tudo seja possível ao olhar...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


quarta-feira, junho 28, 2023

Línguas, víboras, venenos e camaradagem...


Há muito tempo que não assistia a um "desaguisado" na via pública entre mulheres, embora perceba que este tempo é especial, pois vive-se de extremos, tanto ao nível da comunicação como das emoções. 

O mais normal no dia a dia é assistirmos a um silêncio de vozes, nas ruas e nos transportes públicos, a visualização do mundo que habita dentro dos "smartphones" é quem mais ordena em todo o lado. Quando se ouvem vozes, normalmente são excessivas, que tanto podem ser de alegria como de tristeza ou até de raiva...

Não fiquei parado a assistir a discussão, mas ainda escutei palavras como "víboras", "línguas cheias de veneno", "ordinárias", "putas"... e entretanto já estava distante.

Continuei a caminhar e a pensar que normalmente o ambiente de trabalho entre mulheres é pior que entre homens. Não só se protegem-se menos umas às outras como são capazes de aplicar mais "golpes baixos", quase que vale tudo. 

No "meu mundo" a camaradagem continua a estar mais associada aos homens. Há mais códigos de conduta entre eles, ligados à lealdade e à honra (ou pelo menos havia)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 27, 2023

O hábito de se abreviarem palavras...


Há já algum tempo que se poupa nas palavras. 

Sei que a velocidade com que se comunica hoje, graças às populares mensagens, ajuda a que se abreviem muitas palavras. Mas como acontece em quase tudo, também existe alguma preguiça, tão natural no ser humano.

Um dos efeitos mais visíveis desta "poupança" é o empobrecimento do nosso vocabulário. Apesar da sua formação superior, é normal que os meus filhos, quando escutam uma palavra menos usual, me perguntem o seu significado...

Mas nem era sobre isso que queria falar. Hoje quando me perguntaram a data de nascimento, em vez de só falar de números, como de costume, substitui o 9 pelo Setembro.  

E soube-me tão bem dizer Setembro! Soou-me tão bem sentir a palavra que indica o mês em que nasci!

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 25, 2023

O jornalismo, o "achismo" e a verdade (ou a falta dela)...


Noutros tempos, nem se pode dizer que passaram assim tantos anos, a verdade era só uma. 

Essa coisa de cada um de nós "ter a sua verdade", é apenas mais uma patranha, que é boa para proteger e alimentar mentirosos.

Infelizmente os políticos e os próprios jornalistas são quem mais multiplica as várias "verdades" que circulam por aí, em simultâneo, sobre o mesmo assunto.

Isso tem acontecido com a "novela" sobre a TAP, onde a única coisa que é certa, é que existem várias pessoas com responsabilidade, que são capazes de mentir com os dentes todos (se fosse verdade a história infantil que nos contam que por cada mentira que dizemos nos cai um dente, a maior parte dos políticos tinham  dentes postiços...).

Infelizmente o jornalismo também já não procura a verdade, prefere alinhar as notícias ao jeito das "telenovelas", deixando sempre um bocadinho da notícia para o dia seguinte.

É também por isso que é cada vez mais difícil perceber o que se passa na Rússia e na Ucrânia. Mesmo os militares que agora são comentadores, são capazes de dizer coisas completamente opostas uns dos outros, como se falassem de guerras diferentes. Defendem mais os seus pontos de vista e as suas preferências, que a verdade, que até parece ser moda estar ausente das televisões, que querem é "espectáculo"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, junho 24, 2023

Não, isto não é calor de Verão, é calor do Deserto...


As pessoas distraiam-se no sábado de manhã. Embora estivéssemos à sombra o dia prometia ser daqueles de nos enchermos de calor, com os termómetros a passarem dos quarenta de Norte a Sul.

Por ser feriado e por ser sábado, houve quem brincasse com o assunto e dissesse que devia ser proibido acumular feriados com fins de semana. Ninguém ligou. 

Pois é, parece que até o humor se está perder-se...

Para mudar de assunto, alguém falou de um desfile que iria percorrer as ruas da cidade, para festejar o cinquentenário de Almada, ao fim do dia. Olhámos uns para os outros sem saber grande coisa. A culpa era nossa, nenhum tinha "facebook"...

Numa conversa cruzada, os mais "beligerantes" diziam que era desta que Putin ia para qualquer coisa melhor, ao jeito dos ditadores, quando acontecem revoluções.

Talvez fosse já efeitos do calor, dizerem-se tantos disparates juntos. Talvez...

Eu que sempre gostei de climas temperados e que adoro o microciclo do Oeste (mesmo que a minha praia tenha nevoeiros matinais frios...), estava a pensar que isto não é calor de Verão, é calor do Deserto...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


sexta-feira, junho 23, 2023

«Gostava de saber quem foi o 'inteligente' que inventou a mentira de que só os burros é que não mudam»


Todos estávamos de acordo, que éramos muitas coisas, às vezes quase ao mesmo tempo, e que podemos sempre mudar, ao contrário do que se gosta de dizer por aí.

Foi quando o Carlos com o seu humor peculiar disse: «Gostava de saber quem foi o 'inteligente' que inventou a mentira de que só os burros é que não mudam.»

E ele estava coberto de razão. Estes animais podem ser teimosos, mas são tudo menos "burros" (apesar do baptismo 'racial'...) Sempre que podem, escolhem o melhor pasto que puderem, e se estiver Sol escolhem uma boa sombra. E mais importante ainda, dão coices a quem os incomoda e não quer que "mudem"...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


quinta-feira, junho 22, 2023

"Descobertas" quase ocasionais, no meio de tantas "distracções" (que podem ser fatais)...


Não sei como era antes da Revolução de Abril, mas penso que nem mesmo a PIDE e as outras autoridades, conseguiam combater as nossas "vulnerabilidades", quase naturais (uma linha fronteiriça com muitos quilómetros, tal como a costa de mar).

Quem queria fugir do país a salto, conseguia-o, fosse para fugir à guerra, fosse para procurar uma vida com mais sentido material. Claro que tinha sempre de pagar a alguém... Muitas vezes dentro do próprio poder (os guardas fronteiriços não "fechavam os olhos" de graça...).

Hoje continuamos com as mesmas características, mas com menos repressão e vigilância (o fim das fronteiras com a entrada na União Europeia agravou o problema...). Não é por isso de estranhar que sejamos um dos pontos mais apetecíveis do Velho Continente para todos os tipos de tráficos, com relevância para o da droga e dos seres humanos. 

Um dos indícios dos aumentos destes crimes são as apreensões de droga (que são os melhores indicadores de que entra cada vez mais no nosso país...) e a descoberta de emigrantes ilegais, aqui e ali, que além de explorados, quase que vivem em "escravidão" (os exemplos na agricultura intensiva do Alentejo, na apanha de bivalves nas margens do Tejo ou até em pretensas academias de futebol falam por si...).

Fico com a sensação de que só agora é as autoridades estão a acordar para este flagelo social, devido a "descobertas" quase ocasionais. Ou então através do velho método de sempre: a denúncia anónima...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 21, 2023

O espectáculo noticioso leva-nos à indiferença...


Sei que não é grande conversa, mas como houve alguém que depois de passar os olhos pelas notícias filtradas que são oferecidas por telemóvel, disse que apesar das "telenovelas" diárias do CMTV, se matava e se morria, cada vez mais no nosso País, perante a nossa indiferença.

Esta última parte foi uma "boca" para nós, "los outros", que preferimos falar de livros, teatro ou cinema, em vez desta realidade que é transformada numa coisa doentia, que parece um espectáculo, por mais degradante que possa parecer.

Ninguém duvidou do facto. De certeza que se morre muito mais em Lisboa ou no Porto, mas quase ninguém nota. Sempre foi assim. O normal é dar-se mais realce ao desaparecimento de alguém que vivia sozinho em qualquer aldeia e foi descoberto sem vida, ao fim de meia dúzia de dias. 

O Carlos com o seu humor quase escuro disse: «Felizmente já não há agricultores, já não se mata e morre por um palmo de terra, com uma sachola...»

Ninguém lhe respondeu, com palavras, sorrisos ou asco. Pois é, estamos mesmo indiferentes...

E depois falou-se de "mensageiros". Muitos nomes vieram à baila. Apesar do que dizem as audiências, todos os que estavam ali sentados, com chávenas de café vazias à sua frente, diziam que sempre que lhes aparecia um "milhazes" ou um "marques mendes" pela frente, mudavam de canal...

Chega? Claro que não.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 20, 2023

Coisas do Arco da Velha da Escola e da Vida (com e sem arte)...


O ensino tem coisas do arco da velha.

Embora as escolas estejam todas em ebulição, com os professores divididos e com uma boa parte dos alunos satisfeitos, por ter sido um ano com mais "folgas" do que as que esperariam no início do ano lectivo.

Por continuarem a ouvir a palavra "respeito" ou slogans revolucionários como os de que "a luta continua", com insistência, pressentem que o próximo ano vai ser também de alguma "folgas". E ficam tudo menos tristes. O estarem melhor ou pior preparados para os estudos superiores, é coisa que fica para depois.

Quase que ia escrever "malditas palavras", mas elas são tudo menos isso, porque estes dois parágrafos já estão aqui a mais, mas começo a escrever e as palavras quase que se "atropelam".

Tinha pensado falar de outra coisa, de "Arte Bruta" (entre nós finge-se que não existe...), mas vai ficar para depois. Depois de um telefonema bastante elucidativo com um dos meus amigos pintores, fiquei mais esclarecido sobre este género artístico.

Finalmente, vou falar do que queria. Das tais coisas do arco da velha do ensino...

Depois de descobrir uma reportagem na RTP2 sobre "Arte Bruta" (vou vê-lo completo, daqui a pouco), no intervalo do jogo pobrezinho da selecção, pensei na minha entrada para o ciclo preparatório, de como me "roubaram" a criatividade. Eu que sempre gostara de desenhar (muito graças à mãe que me comprava cadernos lisos para eu riscar, quando ainda não sabia ler...), de repente vi-me preso a uma disciplina de régua e esquadro e fui deixando os rabiscos para depois...

Tudo isto para dizer que a escola dá-nos muitas coisas, mas também nos tira outras. 

Pois é, essa coisa "do mundo perfeito". como todos sabemos, não passa de uma ilusão... 

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, junho 19, 2023

A Dificuldade em Contrariar a "Ordem Natural das Coisas"...


Embora hoje existam vários cursos de liderança, estes nem sempre vão ao encontro dos seus destinatários, de quem realmente exerce o poder. Normalmente são os quadros médios que frequentam estas acções de formação. Isso acaba por ter no mínimo uma vantagem, mesmo que estes não exerçam funções de chefia, ficam a saber o que se deve, ou não, fazer com os superiores e com os subordinados (numa boa liderança, claro).

Mesmo que não possam (ou não queiram...) contrariar a "ordem natural das coisas", olham com mais nitidez para este País, que está habituado a lideranças que gostam de usar mais a força que a razão, que são fortes com os fracos e fracas com os fortes.

As trapalhadas dos governos locais e nacionais (não acontece apenas com o governo do Costa, que provavelmente é o mais escrutinado de sempre...) são um bom exemplo de quem quase "lambe as botas" aos primeiros-ministros, presidentes de municípios ao mesmo tempo que dão "patadas" nos secretários de Estado, nos adjuntos e nos chefes de serviço. Passa-se o mesmo na generalidade das empresas e instituições públicas.

Penso que só quando conseguirmos quebrar esta regra, é que a mediocridade será colocada no devido lugar. Algo que por este andar, poderá acontecer no "dia de são nunca", lá para a tardinha...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 18, 2023

A Solidão na Obra de Edward Hopper


Há pouco estive a arrumar uns catálogos de arte e acabei por folhear um sobre a obra de Edward Hopper.

Voltei a reparar que há por ali, um traço comum e dominante: a solidão humana.

Há quase sempre pessoas sós. Ou estão sozinhas no mundo ou têm um mundo só delas.

Também há muitas janelas, para olharem o Mundo... Delas e dos outros.

Mesmo quando aparece alguém acompanhado, não deixa de dar mostras de estar só. Pelo menos foi o que senti com a mulher de chapéu e vestido verde, sentada no café, na mesma mesa de um homem, que está de costas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 17, 2023

A Lisboa dos "Turistas" e dos "Campistas"...


Eu sei que em Lisboa não há pontes para todos, muito menos espaço debaixo delas para se acampar (o preço por metro quadrado deve acompanhar o da habitação...), mas é no mínimo triste o que se está a passar por quase toda a Cidade.

Estão montadas centenas de tendas nas avenidas, nos jardins e nos largos da cidade, com a complacência das autoridades locais, que fingem não ver, para terem menos um problema para resolver...

O resultado de mais um atropelo a esta cidade sem espaço para tanta gente, é estar cada vez mais imunda. Cheira a mijo por tudo o que é canto. 

Acredito que o problema não é dos turistas (a maioria são finórios e vão as cafés e hotéis satisfazer as suas necessidades...), nem apenas dos nossos "sem-abrigo" crónicos. Há muitos emigrantes  (que são com toda a certeza três ou quatro vezes mais que os números oficiais, para não me alongar muito nas contas...) ilegais a viver na rua, quase todos abandonados e escravos das drogas, que em vez de viverem, vegetam pela Capital.

Tanto o Alcaide da Cidade como o Presidente do Conselho de Ministros e o líder da oposição não devem andar a pé pela cidade. Preferem passar "a correr", dentro dos seus carros velozes, a conversar ao telemóvel em vez de olharem para as ruas de Lisboa (e de vidros fechados, para não terem de "snifar xixi"...). 

São todos bons a "assobiar para o lado", e a esperar que este Sol derreta as "bolas de neve" que crescem por todo o lado...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)