quarta-feira, fevereiro 21, 2024

É importante desmontar o "mito"...


Quando me preparava para ir para a cama, dei uma voltinha pelos canais e descobri que a RTP2 estava a passar um documentário, "As Memórias do Século XX" (era já o terceiro episódio), fiquei parado um ou dois minutos a ouvir as duas filhas de Cottinelli Telmo, que nos deixou precocemente em 1948 (enquanto pescava foi levado por uma vaga do mar, que se revelaria fatal...). 

Acabei por desligar a televisão, mas hoje, mal me levantei, enquanto preparava o pequeno-almoço, enchi a casa silenciosa com este episódio da nossa história.

Acabei por ficar ainda mais convicto da importância de homens como Duarte Pacheco, Cottinelli Telmo ou António Ferro, no começo da governação salazarista e também na criação do "mito" (pois é, ainda somos capazes de ouvir alguns ignorantes dizerem que "isto só lá ia com um novo Salazar"...). Principalmente o primeiro, que foi Presidente do Município de Lisboa e Ministro das Obras Públicas de Salazar e que morreria estupidamente num acidente de automóvel, em 1943...

Foi um homem de tal forma influente, que deu trabalho a vários democratas (Keil do Amaral, Almada Negreiros ou Pardal Monteiro), contrariando a vontade da própria polícia política e de ministros ultra-conservadores e deixou uma obra que fala por si (sei que já foi comparado ao Marquês Pombal, e esta comparação não é assim tão descabida quanto isso, pois foi capaz de ver mais longe que todos os outros...) e ainda se vê nos nossos dias (há vários exemplos, talvez a Mata de Monsanto seja o mais simbólico...).

Quem muitas vezes elogia o ditador não faz ideia que este homem foi contra muitas das coisas que foram feitas, inclusive a construção da Ponte Sobre o Tejo, que até acabou por ser baptizada com o sue nome. A própria Cidade Universítária, que continua a manter a sua imponência, teve de ser feita quase clandestinamente por Duarte Pacheco, porque Salazar não concordava com ela... 

Continuo convencido que este homem, fechado dentro de si, fez-nos muito mais mal que bem. Ele, que nunca se deu sequer ao trabalho - e ao prazer - de conhecer o que existia para lá do nosso Portugal, atrasado e esquecido...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


6 comentários:

  1. Fica por explicar como um ditador se conformava em ser contraditado!

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    1. E quem diz que se conformava, José?

      Apesar de ser um ditador, entre os seus ministros, não havia apenas "bonecos amestrados", José.

      No caso de Duarte Pacheco, a obra dele falava por si. Não foi escolhido como ministro apenas para fazer as vontades do ditador.

      Em relação à construção da Ponte sobre o Tejo, Salazar estava completamente isolado, mesmo no Conselho de MInistros. Os seus principais conselheiros sabiam das vantagens desta construção, assim como as grandes famílias que apoiavam o Estado Novo...

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    2. Concluindo: tinha a grandeza de não temer rodear-se de gente com valor, e tinha a humildade de não exercer o poder sabendo dele dispor.

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  2. Duarte Pacheco era um ministro de ouro!

    Abraço

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