terça-feira, fevereiro 20, 2024

Nunca fui (nem quero ser) um purista


Nunca fui (nem quero ser) um purista.

Também tentei sempre fugir dessa coisa, de ser uma "maria vai com as outras". Desde muito pequeno, mesmo sem o saber...

A avó talvez tenha sido a principal vítima. Ao contrário do meu irmão, dizia ao que ia, não queria comer a comida de que não gostava, coisa impensável para quem durante os tempos de fome da Guerra (a segunda do mundo...) tenha três crias pequeninas a quem dar de comer...

Não fazia o que queria, mas dizia quase sempre do que não gostava.

E fui sempre assim.

Com as palavras, com as artes plásticas, com o teatro, com a fotografia.

Sempre quis gostar de coisas que me diziam alguma coisa, mesmo que fossem uma porcaria para os outros. Por outro lado, tinha (e continuo a ter...) dificuldade em perceber a arte que chamo "do nada", em que alguém - muitas vezes até artistas "famosos" - nos tenta passar por estúpidos e dizer que está lá, qualquer coisa que não se vê (nem verá...).

É sobretudo a olhar esta arte que me acho conservador.

Estou a escrever e vou lembrando-me de coisas (não era para escrever sobre a avó Henriqueta...) mas... 

Um dos lugares que faz parte da infância dos meus filhos, mesmo que eles hoje não pensem muito nisso, é a Casa da Cerca de Almada. Enquanto cresciam, andámos muito pelos jardins, passeámos pelas salas com exposições, olhámos Lisboa e o Tejo... E foi numa dessas mostras de arte, em que tivemos a companhia do meu sobrinho João, que ele disse que também era capaz de fazer "aquilo", que estava pendurado na parede: quadros pintados de brancos com saliências criadas por cimento, atirado às telas. E estava certo...

Estou com ele. Arte é muito mais que atirar cimento a uma tela e depois cobri-la de tinta branca, amarela ou azul, com uma trincha ou um rolo.

É também por isso que me faz confusão ouvir gente a dizer mal do Pessoa do Chiado (poderei ser suspeito, por o Lagoa Henriques ter sido um dos meus mestres...) ou até do Padrão dos Decobrimentos, enquanto objectos artísticos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


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