Nós humanos somos mais complexos do que parecemos. Um dos exercícios que me habituei a fazer desde cedo (às vezes com alguma ginástica e quase forçado pela minha mãe...), foi tentar "colocar-me" no lugar dos outros. É uma coisa que todos devíamos fazer, aqui e ali, pois oferece-nos logo uma perspetiva diferente do que está em discussão.
Com tantos problemas para resolver neste país, o meu barbeiro desta vez foi "meter-se" com os sem abrigo, essa "escória" da sociedade, esse "lixo humano", no seu léxico de barbearia. Felizmente ele é bem falante, raramente utiliza o vernáculo, o que faz com as conversas não "descambem (talvez seja uma estratégia pessoal, pois assim pode dizer as maiores barbaridades, deixando a imagem de que não está a "insultar ninguém"...).
Mas ao chamar alguém de "lixo humano" (mesmo que possa ter razão em alguns casos) está logo a entrar no domínio da ofensa pessoal e colectiva, a todos os homens e mulheres que, voluntariamente ou involuntariamente, foram despejados para a rua e transformaram um banco de jardim ou um velho alpendre em "quarto de dormir".
Eu disse-lhe que quando surge um desemprego tardio e de repente todas as portas se começam a fechar, é difícil dar à volta e voltar a ter uma vida normal. Se a família em vez de ajudar ainda "empurrar para baixo", é meio caminho andado para as pessoas se sentirem uns empecilhos e quererem "desaparecer"...
Ele respondeu-me da forma mais fácil, que "trabalho é coisa que nunca faltou por aí, falta sim, vontade".
Foi quando esgotei os argumentos...
Não valia a pena dizer que a forma de desaparecer mais usual é esta: deitar a chave de casa fora e esquecer o "número de polícia" da porta da rua e inventar outra vida, aparentemente mais livre, mas também mais suja e com menos sentido...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
Alguém, das nossas altas esferas da governação, prometeu em 2020,salvo erro, acabar com os sem-abrigo. Mas, com a desculpa da pandemia, não voltou a interessar-se pelo caso...
ResponderEliminarE não me venham dizer que só não trabalha quem não quer! Os ordenados são baixíssimos e a vida está muito cara. As casas, então!!!
Prometer sempre foi mais fácil que fazer, Maria...
EliminarE sim, não há trabalho para todos. Então quem tenha mais de cinquenta anos, é velho para quase tudo... como se fosse imprestável.
Bom dia
ResponderEliminarÁs vezes é mais fácil se fazer de burro do que discutir com um .
JR
Muitas vezes, Joaquim.
EliminarHá lixo humano que anda por aí muito bem vestido!
ResponderEliminarAbraço
Bem vestido e bem transportado, Rosa.
EliminarMas o mundo é deles...
Na zona onde vivo, em Lisboa, há imensos Alojamentos Locais e casas arrendadas.
ResponderEliminarHá pouco ouvi uma conversa em que alguém dizia que ia alugar a casa que foi da mãe ( e que está num Lar, agora ) por 1.800 €...Isto também é outro género de lixo...
Toda a gente quer ganhar dinheiro, com os turistas ou o que quer que seja, Maria...
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