quarta-feira, julho 06, 2022

A Ficção esta Sempre a querer Meter a Realidade do Bolso (ainda a propósito dos cartuchos com sal)...


Se eu tivesse qualquer dúvida sobre o gosto das pessoas por histórias, com balas verdadeiras e não com cartuchos com sal, tinha-as perdido com a aventura do Alfredo, contada aqui, há dois dias.

Como eu já tinha dito num comentário, a família do Alfredo não achou graça nenhuma a este seu "momento de loucura" (mesmo que tenha surtido efeito, pois não voltaram a ser incomodados...). 

Mal sonhavam eles que o melhor ainda estava para vir...

Todo e qualquer dissabor que o Alfredo pudesse vir ter, até mesmo com as autoridades, desapareceu, graças à imaginação das pessoas. O único tiro disparado naquela noite passou a "tiros". E nunca sequer a vizinhança colocou como hipótese que tivesse sido "o velho dos rés de chão" a disparar contra os "bandidos". Também nunca questionaram o casal de idosos sobre o que acontecera. Preferiram colocar a imaginação no terreno, como qualquer escritor de livros pretos.

Ou seja, existem pelo menos duas versões sobre o que aconteceu. A primeira, espalhada pelos vizinhos do prédio, na manhã seguinte, era de que tinha sido algum familiar ou amigo do Alfredo que surpreendera os dois ladrões a quererem entrar em casa e que os tinha corrido a tiro (alguém sabia que eram dois, da janela deve ter vistos os dois vultos a fugir...). Sem que ninguém percebesse porquê, houve outro alguém que resolveu "apimentar" o que aconteceu naquela noite (deve ver o CMTV...) e começou a falar de uma "guerra entre gangues" e que tinham sido disparado vários tiros. Só faltou mesmo terem despejado um frasco de ketchup na rua, para que a acção tivesse o "sangue" usado nos filmes. 

E como é natural, foi esta segunda tese que ganhou força e que se está a espalhar pelos cafés de Almada (claro que com ela veio também o habitual xenofobismo, devido ao excesso de "brasileiros" e de "paquistaneses" que vivem na cidade).

As únicas pessoas que sabem o que realmente aconteceu, permanecem em silêncio, porque nestes casos o "silêncio é mesmo de ouro"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


4 comentários:

  1. Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto, mesmo não sendo real!
    Esse excesso denota qualquer picardia! (•‿•)

    Abraço

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    1. Nem mais Rosa.

      Se até nas notícias isso acontece, quanto mais nas conversas de café...

      Eu não sabia, mas nas redondezas tem havido problemas com uma quase comunidade de brasileiros que aos fins de semana faz de uma vivenda um "clube de samba", com churrasco, berros e música, até aparecer a polícia, e devolver o silêncio aquele quarteirão. Talvez tenha vindo daí a "conversa de gangues".

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  2. Não convém dizer a verdade... :)

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    1. Pois, e nem sempre a mentira tem perna curta, Catarina.

      Em casos como este se alguém contasse a verdade, ainda eram capazes de achar que estavam a gozar com eles, porque as pessoas a partir dos 65 parecem não ter qualquer préstimo, neste país, que é para tudo menos para crianças e velhos.

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