sábado, julho 02, 2022

As "Sociedades do Medo"...


Uma das coisas mais importantes da globalização tem sido a aproximação entre todos os continentes, com um conhecimento geográfico e social (mesmo que continue a ser demasiado "leve"...) de praticamente todos os povos que habitam o nosso planeta.

Talvez por isso, tenhamos percebido que não somos assim tão diferentes dos outros, por muito que estejamos afastados, geograficamente.

Após o lançamento do seu livro, "Portugal, Hoje, o Medo de Existir", o filósofo José Gil deu uma entrevista ao "Jornal de Letras" (Janeiro de 2005), em que demonstrou conhecer-nos como mais que "visitas da sua casa":

«Este novo medo é o que temos uns dos outros. Tememos que o Outro nos critique, que não estejamos à altura da ideia que ele supostamente tem de nós, e tudo isto trava a coragem do pensamento e da acção. Isto significa que somos uma sociedade suavemente paranóica. Temos medo de enfrentar os outros, temos medo de dizer o que pensamos. Como se a expressão do que pensamos se voltasse contra nós. E assim, em nome de estratégias que visam proteger a nossa vida, fazer a nossa carreira, etc., não avançamos. O que não impede que, aproveitando-se deste medo, haja em toda a parte pequeninos déspotas.»

Sim, somos muito isto.

Mas voltando à globalização, talvez ela nos tenha feito perceber que não estamos assim tão sós, nestes "medos". Ou seja, há muitas mais "sociedades do medo" espalhadas pelo mundo... 

E por outro lado, talvez a pandemia ainda tenha agravado ainda mais estes "medos".

Claro que esta nossa aproximação do tal "espelho quase universal", está longe de ser positiva, porque em vez de nos ajudar a enfrentar - e desafiar - o nosso "medo", pode sim, ajudar a que ele seja aceite como uma coisa normal.

(Fotografia de Luís Eme - Corroios)


8 comentários:

  1. José Gil fez essa afirmação em 2005. Talvez hoje essa afirmação tivesse outros contornos. Também temos a considerar a sociedade em que vivemo, é certo. Olha que no continente americano não se vê esse medo de ser criticado ou de não estar à altura das ideias dos outros. É precisamente o oposto. As pessoas estão cada vez mais abertas para dizer e fazer o que muito bem entenderem sem pensarem duas vezes.
    Agora medo em termos de segurança. Isso sim. Há muito medo com tanta violência a acontecer principalmente nos Estados Unidos. Até no Canadá isso acontece embora com menos frequência. Mas eu noto (todos nos apercebemos) que os atos violentos estão a acontecer todos os dias em diferentes parte deste país. Impensável há décadas.
    Também sou de opinião que a pandemia agravou o medo. A vulnerabilidade humana esteve exposta em termos globais. Muito assustador.

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    1. Claro que hoje ainda seria mais pessimista, Catarina.

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  2. Eu falo por mim: a pandemia agravou todos os meus medos. Nunca fui uma pessoa de grandes beijos e abraços e, agora, estou cada vez pior. E isto não acaba aqui. No próximo Inverno vai aparecer uma nova estirpe!

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    1. Vai aparecer um nova estirpe?

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    2. Claro que vai Seve. A esperança é que os investigadores descubram antivirais eficazes...

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    3. É caso para dizer: as farmacêuticas não param, até são capazes de inventar vírus para depois descobrirem a cura e lucrarem milhões, Maria e Severino.

      "grande galinha dos vírus que descobriram"...

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  3. Li o livro quando foi publicado.
    Lembro-me que o achei interessante.
    Pode parecer estranho mas não tenho medos.
    Ou então sou inconsciente...

    Abraço

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    1. Nem todos vivemos com medos, Rosa.

      (eu também não e não me considero inconsciente, tenho sim uma boa capacidade de abstração...)

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