terça-feira, novembro 17, 2020

Rabiscos com Humanos



Nós íamos falando e o Zé Manel ia desenhando... Pois é, cada um expressa-se como quer, ou como pode.

Era quase sempre assim, quase que podíamos fazer um caderno ilustrado das nossas conversas. Quase. Ambos sabíamos que no meio das nossas palavras, apareciam três ou quatro figuras demasiado estilísticas, que não ficam muito bem nos livros, mesmo que estes sejam alegres.

Lembrei-me disso, hoje bem cedo, quando vi um "sem abrigo" a arrumar a trouxa, depois de mais uma noite passada no seu poiso, a fachada de um edifício abandonado no centro da cidade.

Uma das últimas conversas que tivemos em grupo, no meio das nossas "reuniões criativas" foi sobre esta gente que foi empurrada para a rua ou desistiu de ter uma vida "normal" (há sempre variáveis há volta da normalidade...). Lembro-me que no meio da conversa o outro Luís disse uma coisa curiosa, que para estas pessoas, o "comer", o "vestir" e o "morar", nunca foram muito importantes no seu dia-a-dia. Ninguém concordou. E como de costume, não chegámos a lugar nenhum, a conversa foi mais uma vez  interrompida pelo aviso de que terminara a "hora do recreio"...

Quando se desiste, tudo deixa de ser importante para nós. Quando somos forçados a desistir, nós é que deixámos de ser importantes...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


9 comentários:

  1. Mesmo desistindo há sempre quem insista por nós.
    Mal estão os deserdados que não têm ninguém que pense e lute por eles!

    Abraço

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    1. E ainda bem, Rosa.

      Mas há também quem não queira "ter ninguém"... Assim como há outros que queriam muito ter alguém... Tanto desencontro!

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  2. Agora vem o Natal e começa a caridadezinha! Vêm todos querer ajudar, porque fica bem na fotografia e amaina as consciências....

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    1. Ainda há esse lado "doce", uma vez por ano, Maria... da santa hipocrisia...

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  3. Ó Luís, mas já são muitos anos a ver isto nas TVs....e lá vem o Presidente passar a noite com os sem-abrigo!!!! Este ano, não sei se o poderá fazer...mas tudo isto me cansa.

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    1. É de uma hipocrisia, que até faz doer, Severino.

      É como se os Sem Abrigo fizessem parte da paisagem urbana...

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    2. Olá Maria.

      (se o Severino não me chama a atenção, passava...)

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  4. Ó Luís olha que o comentário a que respondes não é meu (mas podia ser).

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    1. Devo ter respondido a um comentário teu antes deste e pensei que eras tu, Severino. :)

      Ainda bem que disseste alguma coisa, passava.

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