sexta-feira, outubro 02, 2020

O Rapaz da Mercearia do Meu Bairro...


Quando vim morar para o meu "bairro" acabei por visitar a mercearia e percebi logo que a dona tinha nascido para estar atrás de um balcão, sempre simpática e prestável. E ganhou naturalmente mais um cliente.

Alguns anos depois mudou-se para uma mercearia mais central, que era quase um "super-mercado", mas que ficava num outro "bairro".

Foi uma pena, porque as pessoas que  passaram pela mercearia - foram bem mais de meia-dúzia -, pensavam mais no dinheiro que em servir as pessoas. Os produtos que vendiam além de caros, eram de qualidade duvidosa. Ou seja, eu só lá entrava quando precisava mesmo de qualquer coisa.

Quase trinta anos depois a mercearia voltou para a família, para o filho mais velho da senhora, que eu conhecia de criança. Comecei a passar por lá e percebi que o rapaz tinha herdado o jeito da mãe em cativar os clientes. E também tinha percebido que tinha de ter preços concorrenciais. Ou seja, conseguiu conquistar muitos dos clientes que o tinham visto crescer e que nem mesmo em tempos de pandemia, deixam de aparecer para dar um pouco à língua (não pode ser por muito tempo porque só podem estar três clientes em simultâneo na loja...).

Às vezes tenho de esperar alguns minutos cá fora e depois quando sou atendido, não me esqueço de lhe dizer que tem de despachar mais rápido as senhoras que aparecem ali com vontade de "namorar". Ele sorri com a cara de bom rapaz, que nunca perdeu.

Toda esta prosa, para dizer que sabe muito bem, sentir que "existe" uma mercearia no nosso "bairro"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


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