terça-feira, março 18, 2025

Ela olhava para aquele descampado, quando me disse: «Eu morei aqui...»


Ela olhava para aquele descampado, quando me disse: «Eu morei aqui...»

Além de umas hortas, não havia mais nada por ali. A encosta era um espectáculo, virada para o Tejo. Apeteceu-me dizer uma piada, parecida com a que a presidente da Câmara de Almada, tinha dito, em relação às vistas do Bairro do "Picapau Amarelo". 

Ainda bem que não disse... A poesia da coisa, estava mesmo apenas na paisagem...

Há situações que nunca iremos perceber, se não passarmos por episódios iguais ou parecidos, como não termos um lugar onde viver. Quando as nuvens aparecem no céu, sentimos que temos de construir qualquer coisa, para não vivermos ao relento, quando a temperatura começa a baixar. Quanto mais não seja, para proteger os nossos filhos...

Ela continuou a falar: «Tinha sete anos, era uma miúda chata porque não percebia a razão de não podermos viver numa casa igual às das outras pessoas. Aliás, ainda hoje não percebo.»

Não precisei de perguntar nada, ela antecipava-se:

«Felizmente as coisas melhoraram e depois do Verão mudámos de bairro e fomos viver para uma casa, grande, com os meus tios, que também viviam aqui, onde havia espaço para todos. Éramos 10 pessoas, mas não era nada mau, havia dois quartos para os adultos e um para os rapazes e outro para as raparigas.»

Até me falou do "buraco"...

«Imagina não teres casa de banho, nem nada que se parecesse, a não ser o "buraco" colectivo e passares a ter duas?»

Consegui imaginar...

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)


2 comentários:

  1. Tudo melhorou mas há muita coisa a piorar!
    A falta de habitação digna é um drama para milhares!

    Abraço

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  2. Nem de propósito, Rosa.

    Hoje foi o dia dos telejornais mostrarem a exploração que se faz a quem precisa de um lugar para dormir...

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