quarta-feira, maio 24, 2023

Conversas, Livros e "Tags"...


Nunca tinha olhado para os "tags", como algo subversivo e revolucionário. 

E continuo a não olhar. 

Para mim não passam de riscos feios. Além de transfigurarem os muros e paredes das cidades de uma forma grotesca, nunca me transmitiram uma mensagem, do que quer que fosse. Não passam de poluição visual.

O romance que estou a ler lembrou-me de um rapaz da minha geração que me tentou vender essa mensagem, há já algum tempo, ao mesmo tempo que quase repudiava os "grafittis", por estes se esforçaram por serem bonitinhos. 

Estamos a léguas de quase tudo (sinto-me um autêntico conservador junto a ele...). Do vestir, do pensar e do viver. Mesmo assim não dou por perdido o tempo em que conversamos. No meio das coisas quase estapafúrdias que oiço, há sempre algo que fica. Talvez procure por ali matéria para as minhas ficções, ou então gosto de ouvir disparates. Ninguém é perfeito...

Foi bom agarrar com as duas mão,  a "Fantasia para Dois Coronéis e uma Piscina" de Mário de Carvalho, retirá-lo de uma das minhas estantes e começar a lê-lo (lembro-me de ter sido sugestão de leitura do meu único amigo coronel, o Carlos, que tinha um belo sentido de humor, mas não sei porquê, acabei por não o abrir, até este Maio...). 

Estou a gostar desta "fantasia", entre outras coisas, porque o Mário é um escritor singular. O mais curioso foi ter encontrado dentro de uma das suas personagens secundárias, as mesmas ideias sobre os "tags", quase como se estas fossem uma "sétima maravilha" artística e revolucionária...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


11 comentários:

  1. Ó Luís, não interpetres isto como um reparo mas apenas como um pedido de esclarecimento: tag's ou grafites são a mesma coisa? É que detesto ver/ler estrangeirismos quando se podem aplicar palavras portuguesas; ao menos, que a seguir à palavra não portuguesa, se acrescente, entre parêntesis, a palavra portuguesa.

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    1. O problema é que há estrangeirismos que são dificeis de traduzir, pelo menos à letra, Severino.

      O grafitti normalmente é um desenho, com cor e expressão (ou pelo menos tenta ser), o Tag é um risco, uma assinatura manhosa ou uma mensagem pintada na parede (normalmente feia).

      Espero ter sido explicito.

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  2. Absolutamente esclarecedor!
    É que eu não sabia mesmo o significado de tag's.
    Obrigado.

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  3. Também fiquei sem saber o significado de “tag’s” . Não será “tags”? O apóstrofo é um sinal gráfico que indica a forma possessiva ou que se usa quando se quer suprimir uma letra. O que aqui não faz sentido.
    Pesquisei. Um “tag”, em gíria, quer dizer “assinatura de um grafiteiro”. O plural será “tags”.
    Que dizes?

    O Severino tem razão quando diz que se deve evitar os estrangeirismos em qualquer língua. Só que o português é um pouco mais “floreado”. Por aquilo que me tenho apercebido é mais frequente as pessoas dizerem que receberam “mails” ou “emails”, por exemplo, do que “mensagens eletrónicas”.
    Como se vai traduzir “brunch” em conversa? - Hoje encontrei-me com uma amiga durante a “refeição que combina pequeno-almoço com o almoço”.
    Qual é o “bar” ou “pub” em Lisboa com as melhores “Happy Hours” ?
    Qual é o “estabelecimento que vende bebidas alcoólicas” em Lisboa com as melhores “Horas Felizes”?
    : )

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    1. Bela lição de português (já alterei), Catarina. :)

      Eu coloquei assim, porque em inglês "Tags" também é sinónimo de etiquetas e estes rabiscos têm pouco de etiquetas.

      Há estrangeirismos que são mais fáceis de dizer e escrever (deste bons exemplos...). Todos acabamos por "ir na onda", por muito que se goste do português.

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  4. Maravilha, esse livrinho do Mário de Carvalho.
    Tem uns anos,ficaram marcas mas as caricaturas do coronel sempre à defesa com a Uzi debaixo do travesseiro,"lixando os cornos" à mulher"libertada" da antiga educação conservadora apesar de um matrimónio de conveniência,o diálogo entre o condutor precisando de se orientar pelos sinais de trânsito e o autor das borradas sobre esses sinais,mantém o ridendo castigat mores sempre necessário.
    Cumps.
    jose

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    1. Mário de Carvalho é um escritor muito especial, gosta de brincar com coisas sérias (e ainda bem), José.

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  5. De certo.
    Há um século o Eça fê-lo de modo refinado e expandido.Um gosto permanente a sua releitura.

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    1. Acho que são estes que ficam, os que traçaram um caminho singular na literatura, José.

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