Somos só dois, na mesa que já foi de uma dúzia.
Não é por teimosia que continuamos a almoçar todas as segundas, o nosso "bacalhau com grão". É por gosto. Gostamos de conversar e de viajar pela história de Almada e da nossa Incrível.
É normal convocarmos alguns dos nossos amigos ausentes, normalmente os mais opiniosos, como era o Orlando e os dois Carlos. Lembramos a "memória de elefante" do nosso Jaiminho, que devia gostar de aparecer para matar saudades, ao mesmo tempo que tirava algumas dúvidas ao Chico (era ele que costumava "desempatar" quando o Orlando e o Chico andavam pelas ruas e portas erradas da nossa Rua Direita).
Normalmente é depois do café que a conversa se torna mais interessante e enchemos a toalha de papel de rabiscos (disse ao Chico que já devia ter mais de cinquenta pedaços de toalhas...), povoados de "personagens" e de "lugares" de Almada.
Desta vez andámos pelo teatro. Eu já sabia o porquê de muitos amadores não aceitarem algumas propostas de companhias profissionais, A nossa conversa acabou por reforçar o que pensava, com dois ou três exemplos dados pelo Chico. A sua geração preferiu levar o "teatro a brincar", porque tinham bons empregos e não queria apostar no risco. Se hoje esta profissão continua a ser precária, há sessenta e setenta anos, não era melhor. E havia ainda outro problema, era uma actividade "mal vista" socialmente...
Era comum ouvir-se dizer, que as pessoas sérias e decentes não escolhiam a vida dos palcos...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
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