sábado, maio 27, 2023

Rastos de Indignação e Incompreensão...


Já quase ninguém fala da menina inglesa, que desapareceu no Algarve, há dezasseis anos. 

Nem mesmo a insistência de alemães e ingleses, em querer colar este rapto a um bandido germânico, voltando a lugares que podem ser de crime, provoca qualquer tipo de alarido ou estados de alma, apesar das horas oferecidas pelas televisões que se alimentam sobretudo de sangue.

Quem não perdoa estes desperdícios de milhões são os familiares de desaparecidos portugueses, que nunca contaram com um milésimo do tempo perdido pelas nossas polícias. Foi por isso que percebi a indignação e incompreensão de um avô, que continua sem saber o que aconteceu à neta, que com dezasseis anos, desapareceu. Saiu de casa de manhã para não mais voltar. Ele tem uma secreta esperança que ela possa estar, viva, em qualquer parte do mundo... Mas sabe que a GNR tratou muito mal da investigação, desde o início, tal como a Judiciária. 

Disseram que ela tinha fugido e esqueceram o caso...

"Sim, poderia ter fugido. Mas porque razão nunca mais deu qualquer sinal de vida?" Era a questão que ninguém era capaz de responder a esta família (e provavelmente a muitas outras...).

Mas que se trata de um drama inultrapassável, ninguém deverá ter dúvidas. Nunca se consegue preencher este vazio que fica...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


10 comentários:

  1. Até em situações destas, os “conhecimentos” têm muito peso.
    Este será um caso que provavelmente nunca será solucionado.

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    1. Os conhecimentos e o poder material, Catarina...

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  2. Oportuníssimo texto, Luís Enes.
    Por outras coisas, lembrei-me de uma canção do Chico Buarque:
    «Atentou contra a existência
    Num humilde barracão
    Joana de tal, por causa de um tal João
    Depois de medicada
    Retirou-se pro seu lar
    Aí a notícia carece de exatidão
    O lar não mais existe
    Ninguém volta ao que acabou
    Joana é mais uma mulata triste que errou
    Errou na dose
    Errou no amor
    Joana errou de João
    Ninguém notou
    Ninguém morou na dor que era o seu mal
    A dor da gente não sai no jornal»

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  3. É realmente uma situação incompreensível e lamentável de desigualdade de tratamento das autoridades.

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    1. Mas o nosso país é cada vez mais assim, não é para velhos nem para pobres, Severino.

      Quem tem dinheiro e amigos está sempre à frente...

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  4. Não saber de um filho ainda consegue ser pior do que assistir à sua partida definitiva.

    Abraço

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    1. Concordo, Rosa.

      É uma porta dentro de nós que nunca é fechada...

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  5. É uma grande verdade. Centenas de crianças têm desaparecido em Portugal ao longo dos anos e a família vive a dor de não saber o que lhes aconteceu. E a polícia pouco ou nada fez.
    Abraço e saúde

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    1. Vivemos num país cada vez mais desigual, Elvira.

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