quinta-feira, dezembro 20, 2018

Idades, Heterónimos e Casas Interiores


Eu sei que nem todos temos o engenho e a qualidade de usar heterónimos nesta representação, que é a vida.

E também sei que não sou grande exemplo para o cidadão comum (esta coisa de andar sempre com estórias na cabeça e nos bolsos tem que se lhe diga...). Mas já notei, mais que uma vez, que a partir dos cinquenta anos as memórias começam a querer ser arquivadas, quase como se fossem coisas do cinema ou da literatura. Torna-se mais fácil misturar a realidade com a ficção. Sim, algumas coisas que vivi embrulham-se com os sonhos (e até com os pesadelos)...

Quando olho para trás chego a ter dúvidas se fui eu que fiz isto ou aquilo, que estive aqui e ali... Sei que sim, mas parece-me que foram protagonizadas por uma pessoa que já não existe.

Se me deitasse num divã e começasse a contar a minha vidinha aos peritos em desvendar de mistérios da mente, eles eram capazes de dizer que é uma coisa normal, quando não se têm uma "casa interior" com muitas assoalhadas... E até eram capazes de me recomendarem que deixasse o apartamento e comprasse uma vivenda.

(Fotografia de Luís Eme)

2 comentários:

  1. Vamos mudando com o tempo, penso que vamos mudando para melhor, da minha parte com a sensação de ter vivido metade da minha vida completamente distraída...mas isto sou eu que nem sou contadora de histórias, com grande pena minha!

    Abraço

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    1. Pois vamos, Rosa. Muitas vezes sem darmos por isso...

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