Durante anos não se sabia muito bem o que fazia, embora se percebesse à légua que era uma ave nocturna.
Era bonita, dona de uma beleza pouco comum, quase exótica. A brancura e as sombras no rosto não enganavam, o Sol não só não a entusiasmava como não a iluminava...
Lembro-me que durante muito tempo fez parte das nossas conversas de café, também elas nocturnas. A vulgaridade e a sujidade tomavam conta de nós, pouco satisfeitos com o seu mistério. Foi o Alípio que numa noite desvendou o seu quase "segredo", afirmando que ela cantava em bares, e bem, quase sempre coisas da américa, negras e brancas.
Depois descobrimos o seu nome artístico e soubemos mais coisas da sua outra vida como cantora.
Depois descobrimos o seu nome artístico e soubemos mais coisas da sua outra vida como cantora.
Não se incomodava de cantar em lugares onde as mulheres se despiam, com e sem arte, depois da uma da manhã. Em nome da sobrevivência, aceitava todas as oportunidades para cantar, ora com os dois músicos que a acompanhavam, um pianista e um contrabaixista, ora em play back.
Outro dos seus mistérios, era não se conhecer nenhuma companhia masculina ou feminina, para além da mãe e irmã.
Foi também por isso que o poeta da nossa rua um dia lhe escreveu um poema. Falava da sua solidão e também da sua beleza e maldita sina, de não conseguir sair da escuridão...
(Fotografia de Luís Eme)
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