sexta-feira, janeiro 26, 2018

Um Grande Livro de Miguel Carvalho


Acabei de ler "Quando Portugal Ardeu", da autoria do jornalista Miguel Carvalho da "Visão".

É um grande livro (curiosamente também pelo número de páginas, mais de quinhentas...), que, como o sub-título indica, fala-nos das histórias e segredos da violência no pós-25 de Abril, dos incêndios a sedes de partidos de esquerda (quase sempre do PCP...), dos atentados bombistas, que ceifaram mais vidas do que eu imaginara...

Além de estar muito bem escrito (tem também a acção e dinâmica capaz de nos prender às suas páginas do inicio ao fim), oferece-nos inúmeros documentos e testemunhos inéditos, com várias entrevistas a alguns protagonistas desse Verão que aqueceu muito mais a Norte que a Sul.

O jornalista Miguel Carvalho, ao jeito de reportagem, fala de tudo e de todos, relatando o que de mais importante (e grave) se passou, sem ocultar os nomes das pessoas que estiveram envolvidas, em ambos os lados da barricada.

Eu tinha onze, doze anos, quando aconteceram todos estes acontecimentos. Morava nas Caldas da Rainha, uma cidade pacata e conservadora, onde nunca se sentiram os "calores" da Revolução (eu pelo menos nunca dei por eles...). Desses tempos recordo as histórias das "mocas" de Rio Maior - provavelmente devido à relativa proximidade - e pouco mais.

Sabia que a ignorância das pessoas era explorada pela igreja e pelas grandes famílias, através de mentiras quase infantis sobre o comunismo (a famosa injecção atrás da orelha dos velhos, assim como os infanticídios...), mas sem ter a noção da gravidade da perseguição que foi feita, com a morte de vários inocentes, que estavam no local errado, à hora errada...

Sabia do envolvimento da Igreja (o famoso cónego Melo ficou quase tão conhecido como a Sé de Braga...), com a extrema direita  (quase tudo gente ligada ao antigo regime, muitos estavam em Espanha...) do ELP e do MDLP, mas não imaginava por exemplo, que nestes núcleos havia mesmo quem sonhasse com uma espécie de  "restauração" a Norte de Rio Maior, apesar de saber que o general Pires Veloso tinha sido alcunhado como o "vice-rei do Norte"...

Recomendo este livro a todos aqueles que se interessam pela nossa história recente.

8 comentários:

  1. "os calores", pois, não sentiram, mas na Escola Rafael Bordalo Pinheiro, onde eu andava havia alguns professores manifestavam alguma ansiedade pelo mudança do regime, muito discretamente, antes do 25 de Abril. Ainda me lembro de estarmos a trocar impressões com uma professora no dia 16 de março, de forma muito velada. Mas no geral a população não era esclarecida, logo não era combativa. Foram tempos muito ricos e interessantes, analisados de diferentes ângulos. Eu tinha quinze anos. :)

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    1. Eu andava mais interessado em brincar que em "ver coisas de gente grande", Maria.:)

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  2. Não conheço mas deixou-me curioso.
    .
    * Doce paisagem do teu sorriso, qual azul do Mar *
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    Deixando votos de um fim de semana muito feliz.
    Boa tarde

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  3. Fiquei com vontade de ler. Até porque na altura estava em Angola e só voltei a meio de 75.
    Um abraço e bom Domingo

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    1. Nós os do Sul não temos noção das patifarias que se fizeram a Norte, Elvira...

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  4. O 25 de Novembro evitou uma guerra iniciada no Verão Quente.
    Os bombistas eram pela maioria 'espontâneos' mas havia organizações em formação acelerada.
    Às sensibilidades que condenam esse Verão, pergunta-se: fazem ideia do que seria o país sem ele?

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    1. Penso sensivelmente o mesmo que o José.

      O 25 de Novembro foi um "mal necessário" (mesmo para não se revê no país que se construiu depois...), foi a única maneira de se evitar uma "guerra civil", pois já havia milhares de armas distribuídas, à direita e à esquerda, de Norte a Sul...

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