Este ano estou decidido a voltar a ler um livro de António Lobo Antunes (provavelmente por teimosia...). Até já escolhi dois títulos, que estão há muito em lista de espera, especialmente o "Fado Alexandrino". O outro romance é "Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo". Vamos ver se não me arrependo logo nos primeiros capítulos...
Continuo a pensar que qualquer escritor que publique livros, não pode escrever apenas para o seu umbigo, tem de pensar também nos leitores. Algo que Lobo Antunes desistiu há já algum tempo, assim como de contar uma história. Mesmo assim continua a ser "endeusado" pelo nosso jornalismo cultural
Hoje no meu trabalho de "arquivista" descobri um artigo crítico de António Guerreiro sobre, "Ontem Não te Vi em Babilónia", publicado no antigo suplemento do "Expresso", "Actual", de 28 de Outubro de 2006, que diz quase tudo o que penso, nesta sua última fase como romancista (em que ele se transformou quase num "deus" da literatura - basta ler as entrevistas...).
Transcrevo a parte que achei mais interessante:
«Posso dizer que “Ontem Não te Vi em
Babilónia” é um romance difícil de ler porque subverte os códigos do género
mais facilmente reconhecíveis, porque a ordem narrativa não se baseia num
agenciamento causal e cronológico de factos (dito de outro modo: não há uma
história fabricada como um contínuo), porque recorre aos processos do monólogo
interior, o que significa que o modo da narração é caracterizado pela
focalização interna. Em vez de um narrador que procede a uma organização
lógica, temos as vozes das personagens, em longos monólogos que se desenvolvem
ao sabor de associações, de evocações, de memórias. Em suma: segundo regras de
descontinuidade que são o contrário da linearidade narrativa.
Mas também posso dizer (e digo-o com
convicção) que este romance de Lobo
Antunes é difícil de ler porque cria imensos ruídos, muita confusão, no modo
como elabora a sua matéria narrativa e, principalmente, os processos de
polifonia. Aquilo que poderia ser apenas complexo torna-se inutilmente
complicado, até ao ponto em que é impossível discernir quem conta o quê e
reconstituir os fios de uma intriga, da qual o romance no entanto não prescinde.
A regra da profusão (nos seus monólogos, as personagens entregam-se a um
discurso que está próximo da associação livre) resulta em algo que funciona no
vazio e que se torna exasperante.»
(Fotografia de autor desconhecido)
Mas, malgré tout, gosto muito de o ler... Leia «As Naus» - muito bom! (pelo menos eu acho...)
ResponderEliminarBoas leituras!
Mas eu li os primeiros livros dele e gostei (muito), Graça (Aqueles que ele não acha grandes livros...).
EliminarA "Memória do Elefante", "Os Cus de Judas", "as Naus" e a "Explicação dos Pássaros"... o problema foram os outros...
Não ligo meia aos prémios e endeusar dos escritores e só compro os que gosto. Gostando, compro cada obra que sai. Aprecio a prosa de Lobo Antunes desde o primeiro livro ainda que hoje lhe reconheça diferenças. Estive a ler o artigo do jornalista. E também li o livro que refere. Mas, felizmente, ao lê-lo, não me perturbaram os mesmos problemas, alguns dos quais, confesso, nem entendi de jeito (sendo verdade que a minha bagagem de leitora não chega e nem precisa chegar tão longe).
ResponderEliminarPenso reler uma data de livros dele e até quero comprá-los porque, então, os lia de empréstimo. E o que mais aprecio no senhor são mesmo os livros.
Boa noite Bea.
EliminarEsses problemas começaram a incomodar-me no "Manuel dos Inquisitores" e fizeram com que não me apetece voltar a lê-lo.
Às vezes o gostar ou não de um livro tem que ver com o nosso estado de espírito desse momento...
Mas resolvi dar-lhe mais uma oportunidade este ano. :)
Daqueles de quem compro livros aceito afirmações, sugestões ou alusões inspiradoras, independentemente do género literário, mas servidas em modo que me seja agradável.
ResponderEliminarConfusas meditações e devaneios são coisa minha, não compro as dos outros.
Como leitor também sou assim, José.
EliminarNeste caso, é a teimosia a falar mais alto. :)
Boa tarde
ResponderEliminarEu gosto da escrita do Lobo Antunes, logo, não sou isento no que vou dizer.
A parte chave do texto do crítico do expresso, para mim, é "os códigos do género mais facilmente reconhecíveis".
A questão é mesmo essa: o L Antunes, como muitos escritores, vale pela tentativa de criar novos códigos, é essa uma das grandes diferenças entre escritores e pessoas que escrevem livros.
Nessa tentativa de criar um novo código, ou simplesmente o seu código, os textos podem ser por vezes um pouco difíceis. Eu gosto porque é a forma que ele encontrou para me obrigar, a mim enquanto leitor, a ir construindo a história a partir dos fragmentos diversos que ele vai espalhando.
Ah, e no meio disso tudo, tem frases, parágrafos que valem por si só alguns best-sellers que se vendem por aí.
Cumprimentos