O homem com a viola pendurada ao pescoço, antes de actuar com o seu grupo, quis ler um poema. E como ainda não estava satisfeito disse para a assistência: «Todos somos poetas e cantores.»
Eu olhei para o meu companheiro da primeira galeria e disse-lhe que não. Acrescentando: «Há muitos que têm a mania que são. Mas há uma grande ponte entre ter a mania e ser.» Ele sorriu, cansado de alguns poetas de palavras incompreensíveis.
Já em casa voltei a pensar no assunto, questionando-me: porque razão teríamos todos de ser poetas ou cantores? Há tanta gente que detesta poesia e sabe que não tem a mínima vocação para o mundo das canções, que esta frase só pode ser mesmo o exagero de quem se acha poeta e cantor, como se para tal bastasse, dizer poesia e cantar.
Eu sei que todos podemos dizer poemas e cantar canções, mas não é bem a mesma coisa.
Além do talento natural e de muito trabalho (é mesmo verdade que a sorte dá um trabalho dos diabos...), é imprescindível uma pulsão interior muito forte para se conseguir vingar nestas duas vocações artísticas...
Felizmente ainda vai havendo palco para alguns líricos...
O óleo é de Dina Brondsky.
Absolutamente de acordo. Não é porque se tem um rótulo que temos que fazer jus a ele. Precisa-se talento e trabalho. O trabalho qualquer um com boa vontade, faz, agora o talento não se compra na loja da esquina, nem vai lá com trabalho.
ResponderEliminarUm abraço e bom Domingo
Pois não, Elvira.
ResponderEliminarSomos o que somos...