domingo, março 02, 2025

O fim da utopia do empresário "bom samaritano"


Parece que estou a ouvir o meu amigo Orlando, a usar a sua ironia, por vezes demasiado fina e inteligente, ao ponto de não ser entendida por todos. «Estás a ver esta camisa? Gostas dela? Foi uma oferta do meu patrão.» 

Ele dizia coisas deste género, sempre que ouvia alguém a defender o indefensável. Sim, de vez enquanto ouvia-se um trabalhador com posições mais próximas dos patrões que dos operários. Só faltava chamar-lhes, "pobres coitados"...

O mundo mudou bastante. É possível dizer hoje, publicamente,  coisas que antes só se diziam em círculos muito fechados, com gente de inteira confiança, mesmo ao mais alto nível.

É por isso que atitudes como a do presidente americano, em relação à Ucrânia, ou a do nosso primeiro-ministro, em relação à sua actividade empresarial, ajudam-nos a perceber como funciona o verdadeiro empresário. Ele olha para tudo o que o rodeia, sempre com uma finalidade maior: a possibilidade de obter lucro, de retirar dividendos pessoais.

Pois é, o populismo dos nossos dias, também tem coisas perversas. Por vezes o "feitiço vira-se contra o feiticeiro". Uma delas parece ser o fim da utopia do empresário "bom samaritano"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, março 01, 2025

Humanizar o "fantasma" de Salazar...


Li com atenção o artigo de opinião de Pacheco Pereira de hoje do "Público", sobre a participação do Arquivo Ephemera na instalação de um espaço museológico em Santa Comba Dão dedicado ao estudo do Estado Novo (Centro Interpretativo do Estado Novo - Regime e Resistência).

Quem como eu passa uma boa parte do tempo a fazer investigação histórica, a remexer papeis cheios de pó (que me fazem espirrar mais vezes do que as que queria...), ficou satisfeito com a explicação do historiador. 

Até porque a passagem da "Escola Cantina Salazar" a "Centro Interpretativo do Estado Novo" tem muitas vantagens. Além de preservar a memória desses 48 anos, quase sempre tenebrosos, vai contribuir para se acabar com a "mitificação" de um homem, que por vezes chega a ser confundido com um "fantasma". 

Como Oliveira Salazar existiu mesmo, o melhor que temos a fazer, é encará-lo de frente, com as suas virtudes e defeitos, como qualquer ser humano e dar-lhe o espaço devido na história.

Ao limparmos "a poeira" e a destapar "os panos" que cobrem este período da nossa história recente (que nos deixou bastantes marcas físicas e psicológicas...), estamos a dar outro contributo, não menos importante: esvaziamos o mito e o culto que se presta a um ditador de má memória, por uma extrema-direita (que a esta hora deve estar a torcer o nariz a esta decisão da autarquia local...), que sempre que pode, tenta branquear a história. 

É com esta transparência (muito diferente da do primeiro-ministro...) e abertura histórica, que se irá conseguir derrotar a mentira e todas as mistificações salazaristas, que se têm perpetuado no tempo.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)