segunda-feira, março 31, 2025

O "nacional-patriotismo", a "paz podre" e a hipocrísia, no seu melhor


O futebol sempre foi um lugar pouco recomendável, mesmo agora com novas lideranças nos chamados clubes grandes, percebe-se que os "vícios antigos" permanecem bem vivos (este final de campeonato vai ser um bom exemplo, com suspeições para todos os gostos...).

Foi por isso que se olhou com alguma naturalidade para as passagens de Fernando Gomes da presidência da Federação Portuguesa de Futebol para a do Comité Olímpico Português e de Pedro Proença da Liga de Futebol para a Federação.

O mais curioso, é o facto destas duas personagens, sem nunca terem sido próximas, terem fingido durante anos que tudo corria bem entre eles a "bem do futebol", mas sobretudo dos seus "interesses pessoais" (como se percebeu com as eleições recentes)... 

Felizmente a "paz podre" não banaliza o trabalho feito, tanto por um como pelo outro nas suas instituições. 

A Liga e a Federação além de terem boa saúde financeira, oferecem condições de trabalho que antes não existiam. A "Cidade do Futebol", erguida por Gomes, onde não falta nada aos atletas e treinadores da "equipa de todos nós", a nível das condições de treino e de conforto, fala por si (mas há ainda um canal televisivo de futebol que dá atenção à selecção, ao futebol feminino, ao futsal e às divisões inferiores, como nunca existiu antes e até o VAR foi instituído pela FPF).

É por isso que percebo a atitude de Fernando Gomes (ao contrário dos "patrioteiros" todos...), que veio para a "praça pública", desmentir o seu apoio a Pedro Proença para um cargo nas instâncias superiores da UEFA, até por ver o seu trabalho na FPF ser posto em causa. Sim, Proença, além de suspender de funções quatro responsáveis de várias áreas federativas, anunciou ainda uma auditoria interna à direcção anterior. Ele tem todo o direito de fazer isto tudo, só não pode depois é fingir que tem um apoio de Gomes, que não existe, para arranjar mais um "tacho", provavelmente bem remunerado, mesmo que seja feito em "senhas"...

A sabedoria popular diz-nos que, "quem não se sente não é filho de boa gente" e, além disso, é sempre saudável, o fim de qualquer "paz podre"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, março 30, 2025

O "comércio justo" é bom, mas o "comércio simpático" ainda é melhor...


Fala-se aqui e ali do "comércio justo", mas do que eu gosto mesmo, é do "comércio simpático".

Nem sei por onde comece. Não é que sejam muitos, eu diria até que, são do clube dos "poucos e bons".

Apesar do Manel da mercearia do bairro se esticar um pouco com os preços, é de uma simpatia a toda a prova. Não é por acaso que há algumas avós que vão lá só para "namorar" com o jeitoso do moço, que nasceu para atender pessoas. Também é bastante culto (formado em gestão, ficou com a loja dos pais, no período complicado do pós-troika), ou seja, tem conversa para toda a gente.

Depois desço à Gil Vicente, onde tenho pelo menos quatro cafés à minha disposição. Curiosamente, nem sempre vou ao que tem melhor atendimento, graças à Soraia, porque tenho de atravessar a rua e nem sempre o faço (o piloto automático leva-me vezes demais na direcção do "Repuxo", mais pelo peso histórico da primeira tertúlia cultural que frequentei, que pelo "atendimento", que deixa muito a desejar, porque  há quem esteja sempre a fazer um "frete ao cliente" e deixe o sorriso em casa.

Continuo na direcção de Cacilhas e entro na "melhor farmácia do mundo". Sim, são quatro os funcionários (três "elas" e um "ele"...), além do sorriso e das palavras agradáveis que oferecem a quem chega, tentam resolver todos os problemas, nunca nos mandam para a concorrência. Penso que acabam por ser vítimas da simpatia, deve haver quem lá vá, só para se sentir bem atendido e ter "uma prosa", sobre um dor qualquer.

Sobre Cacilhas, estamos conversados. 

Depois subo a Almada e entro no "Olivença", que mesmo sem ter nada de especial como restaurante, tornou-se quase familiar, muito graças ao Carlos, que recebeu de braços abertos a nossa cada vez menos expressiva, "Tertúlia do Bacalhau com Grão", no primeiro dia da semana.

Falta falar da loja de fotocópias que frequento, no centro de Almada, há mais de vinte anos. Falo de um casal daqueles que já não há (o Carlos e a Maria José). Além da simpatia e do serviço de excelência, são de uma honestidade que também já se usa pouco nestes tempos estranhos.

Antes de acabar esta pequena crónica, escrita por ser adepto do "comércio simpático", ainda fiquei a pensar se esquecera alguém. Acho que não. Claro que há mais pessoas que sabem receber, com a Carla dos "óculos" ou o casal simpático da tabacaria mais pequena de Cacilhas, mas não sou um cliente tão assíduo como nos outros lugares.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, março 29, 2025

«Tudo mudou. Somos uns sortudos, agora até as escritoras são bonitas.»


Não nos encontramos muitas vezes. Não é preciso.

É um homem de um tempo ainda mais longínquo, que o meu, mesmo que sejamos da mesma geração.

Crescemos, estudámos e vivemos em meios muito diferentes. Percebo isso pelas conversas que temos, mas também pela sua biografia, aquela  oficial, que está ao alcance de todos.

Ninguém diria pela tal "biografia" (foram muitos anos ao lado dos "poderes"...), que era tão anarquista. Ou então foi a idade que o foi extremando nas ânsias de liberdade, que devia ter, quando estava "refém" do poder.

Casou mais cedo do que eu. Gosta tanto da instituição que já vai na sua quinta união de facto (depois da chatice que foi o terceiro divórcio, não voltou a assinar nada de "cruz" (palavras dele).

Tudo o que escrevi até aqui, são coisas da qual não falamos. Sim, é verdade, nunca falamos das nossas mulheres. Uma ou outra vez, falamos dos filhotes, mas apenas porque calhou em conversa.

As nossas conversas misturam-se mais com os livros, com o cinema, com a arte, e claro, com algumas pessoas curiosas, que podiam ser personagens de qualquer conto ou novela... Ou seja, acrescentamos sempre "cultura geral" um ao outro, especialmente ele, que viveu mais coisas que eu. Se nos últimos anos quase que "desapareceu" dos jornais e revistas (pois é, quem não aparece esquece...), durante anos andou pela imprensa, rádio, e até, televisão. Adora esta vida de quase anónimo e também se orgulha de não ter nenhuma rede social (disse que se as tivesse, a falta de assunto até era capaz de o levar a "postar" a fotografia de um pastel de bacalhau...).

Tem mais sentido de humor que eu. Foi por isso que me perguntou se eu não andava cheio de "caruncho". Disse que sim. Até lhe falei do meu joelho direito, que parece o de um futebolista, coisa que nunca foi, para além das camadas jovens do velho Caldas e das futeboladas entre amigos...

Em vez do Trump, falámos de algumas Ivanas. E lá se saiu ele com uma daquelas frases que a Inês detesta, pelo ar misógino que transporta (pois é, além de anarquistas, também fingimos que somos uns perigosos machistas, apenas porque nos sabe bem...): «Tudo mudou. Somos uns sortudos, agora até as escritoras são bonitas.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, março 28, 2025

O associativismo e as tertúlias, que resistem a um tempo, que é, no mínimo adverso...


Estava à conversa com um amigo e ele perguntou-me se ainda tinha os almoços "tertulianos". Disse que sim.

Quis saber do bom do Chico. Disse-lhe que se recomendava, ainda na última segunda-feira, quando regressávamos a casa, na companhia do Tomás, ele comentou com o seu humor especial, que começava a não ter paciência para os "velhos", que passavam o tempo a repetir-se, a dizer as mesmas coisas... 

Claro, foi gargalhada geral...

E depois recordei que ficámos amigos depois de termos feito parte da direcção da Incrível Almadense. Uma das coisas que me irritava (mais que "solenemente"...), era a forma parva como o presidente o tratava nas reuniões, abusando do facto de ser um ser humano de excepção, daqueles que não gritam para se fazerem ouvir.

Mas infelizmente, este é o tipo de liderança que está a vingar por esse mundo fora. A tal gente que se percebe à légua, que é é "forte com os fracos e fraco com os fortes"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, março 27, 2025

O meu aplauso para todos aqueles que amam o teatro e sentem o palco como um "céu"


Não vou falar do que se diz, quase em jeito de piada, de que o Teatro e a crise, são quase "irmãos gémeos".

Vou falar das mulheres e dos homens que gostam (e precisam) de ser outras pessoas, e que amam vestir as "suas peles" nos palcos.

Gostam tanto de teatro, que até são capazes de fingir que têm o público que merecem, mesmo que as salas onde tentam brilhar, tenham demasiados lugares vazios na plateia, mesmo que os preços nem sejam elevados.

Alguns (cada vez menos...), até se dão ao "luxo" de dispensarem a participação em telenovelas, mesmo que isso os obrigue a andar diariamente em transportes públicos, e que jantem mais vezes sopinha que bifes...

É por isso tudo, que digo: "Viva o Teatro!" 

"Vivam todos aqueles para quem o Teatro é a sua vida!"

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, março 26, 2025

As mudanças raramente acontecem de um momento para o outro (as revoluções não contam...)


Há mais de vinte anos, um homem bastante lúcido, com um conhecimento profundo dos corredores do poder e também com passado jornalístico, fazia um retrato fidedigno do que já se estava a passar nos jornais (a rádio e a televisão vieram a seguir...).

«Existe uma sociedade livre, plural e aberta quando há condições políticas e institucionais para isso. Não existem, nos jornais, empresários de esquerda, por isso temos a imprensa que temos. Vivemos numa sociedade em que a liberdade de imprensa não está a ser posta em causa directamente, mas é largamente condicionada. Não há dúvida de que a concentração em determinados grupos económicos poderá causar um cenário de gravíssimo condicionamento, o que não configura uma situação de violação das regras democráticas, porque se alguém quiser fazer um jornal de esquerda, é livre de o fazer. Pode é sempre dizer-se que essas coisas custam dinheiro, e o dinheiro está mais de um lado que do outro.»

Estas palavras são de António Mega Ferreira, quando foi entrevistado para o "D. Notícias" (curiosamente a principal vítima dos "abutres" nas duas últimas décadas...), em Novembro de 2002.

Infelizmente, vinte e dois anos e alguns meses depois, as coisas estão muito pior. Os "patrões" além de escolherem os directores que mais lhes convêm, também convidam os comentadores que mais defendem os seus interesses. O chamado pluralismo, é cada vez mais "uma treta".

Onde se nota mais a dualidade de critérios é na televisão, onde cada vez há menos espaço para a esquerda.

Por este "Largo" ter memória, nada disto aconteceu de um momento para o outro. Tem sido um processo lento, mas bastante eficaz...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, março 25, 2025

Todos os ventos estão a soprar para o mesmo lado...


Montenegro está quase a ser levado pelo vento (e por alguns jornaleiros e comentadeiros que ainda gostam de brincar com papagaios, não dos de papel, mas daqueles mais finos sofiscados que se vendem nas lojas de brinquedos...), em direcção ao Poder. 

Claro que ele também leva algum jeito, para se colocar a "favor do vento" e deixar-se levar na bolina... 

E não vai falhar uma oportunidade para se vitimizar, por saber que os portugueses gostam de coitadinhos. E se tiver de levar um encontrão qualquer (mesmo daqueles fabricados...), numa cidade ou vila qualquer onde não seja muito popular, venha ele... 

E vai andar sempre de dedo em riste, a apontar para o Pedro, com bom costado para arcar com as culpas, mesmo que ao contrário dele, quisesse tudo menos eleições...

(Fotografia de Luís Eme - Niza)


segunda-feira, março 24, 2025

O tempo da gente que é "fraca com os fortes e forte com os fracos"...


Já há uns tempos que não nos encontrávamos, para conversar e "não dizer mal de alguém", uma das melhores sínteses das nossas conversas abertas, feita pelo nosso querido Carlos Guilherme. 

É bastante saudável termos um grupo, mesmo que seja curto, onde seja possível falar de tudo (a única excepção que confirma a regra é o "futebol", que é mesmo tratado como uma coisa menor por todos nós...)., sem termos de esconder as mãos, tanto a esquerda ou a direita.

Começámos por falar de forma crítica como a informação é manipulada nas nossas televisões, rádios e jornais, excluindo algumas notícias incómodas (sem que nenhum percebesse porquê...), como as que falam de grandes protestos nos EUA, até mesmo de republicanos, pela forma aparentemente estúpida como o país está ser governado. Há quem já fale em "ditadura" e num "estado sem direito", que até está a incomodar juízes trumpistas...

Como é que se chegou aqui? Foi a pergunta que trouxe os silêncios para a mesa. Pois foi, de um momento para o outro quase que "ficámos sem pio"...

Foi tempo de se chamar nomes aos americanos. "Ignorantes", foi o termo usado mais simpático. Mas facilmente concluímos que não era apenas isso. Há demasiadas teorias mentirosas, que têm sido divulgadas há décadas, como o facto dos EUA serem "o país mais livre do mundo". Nunca o foi, nunca o será. A que não será mentira, é o facto de continuar a ser a maior potência militar do mundo. O que faz com que tenha uma apetência especial para se intrometer em quase todos os conflitos do planeta, mesmo que saia "chamuscado" na maior parte deles...

É este passado que ainda torna mais incompreensível o seu posicionamento em relação à Ucrânia. Talvez seja mesmo verdade o que o Rui disse, que Trump é o típico empresário (temos muitos assim, nos partidos e nas empresas, grandes e pequenas...), que é fraco com os fortes e forte com os fracos... Talvez seja esta a única explicação para a sua estranha "admiração" por Putin...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, março 23, 2025

«Despertas tudo menos indiferença»


Sabia que não era um elogio. Era mais um apontar o dedo. 

Nada que fosse de muito importante, pelo menos para quem já fez sessenta anos e sabe, viu e sentiu algumas coisas, que parecem estranhas para os comuns, que correm atrás de coisas, que ele vira costas...

Talvez noutra altura, ela lhe virasse costas e não dissesse: «Despertas tudo menos indiferença.»

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, março 22, 2025

Encontro na cidade quase deserta...


As mesas e as cadeiras mantiveram-se em cima umas das outras, mais um dia, nas duas esplanadas que fazem concorrência ao vazio, na Gil Vicente.

Compreende-se: faz sol, depois frio, chove, o vento está por aí, algures, atrás de uma nuvem, dá um sopro ou dois e depois esgueira-se, para outra rua. 

As pessoas ficam por casa, mesmo que seja sábado à tarde. Hoje não é dia do "chá das velhas"...

Foi por isso que gostei de ver o Carlos Alberto, com os seus quase noventa anos, a caminhar em direcção a casa, depois de beber a bica no café que fica ao lado do meu. Gosto do serviço mas a bebida escura é fraquita pelo que vou à concorrência.

Não foi difícil apanhar o Carlos, com o seu andar lento, apoiado com uma canadiana. Disse-lhe que gostei de o ver, sem medo de ser levado pelo vento. Ele sorriu e disse que, tem de ser, tem de sair de casa, todos os dias, nem que seja apenas para beber café...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, março 21, 2025

«Sou Poeta!»


Ser poeta continua a ter muito que se lhe diga, no nosso país e nos países outros. Foi por saber isso que um dia qualquer escrevi estas palavras:


«Sou Poeta!»
  
Quando lhe perguntam a profissão,
responde sempre:
- Sou poeta!
Gosta de ser olhado de alto abaixo,
como se os outros andassem a ver
de onde lhe faltava um parafuso.
 
Que satisfação boa e secreta…


Luís [Alves] Milheiro


(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)

 

quinta-feira, março 20, 2025

A poesia, entre "pastores e cientistas"...


Sei que há definições para todos os gostos, de algo que não é tão complexo como alguns "poetas", nos querem fazer querer.

Deve ser por isso que gosto tanto do Alberto Caeiro, que deve ter sido criado pelo "Pai", para desmistificar a tal "ciência poética"...

Tal como não gosto dos romances em que os seus autores não conseguem contar uma história, com princípio, meio e fim, também não gosto da poesia, que quase que nos pede que emigremos para Marte, para a conseguirmos entender.

Não é só nos restaurantes duvidosos, que podemos comer "gato por lebre", na literatura, há por ai muitas coisas estranhas, curiosamente, aplaudidas por alguns críticos, que gostam de vestir os tais fatos verdes com antenas, que alguém inventou, com mais graça que outra coisa.

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


quarta-feira, março 19, 2025

«Vê lá se não sais muito de casa hoje, é que o "diabo" escolheu o dia para abanar tudo à nossa volta»


«Vê lá se não sais muito de casa hoje, é que o "diabo" escolheu o dia para abanar tudo à nossa volta.»

Sorri ao telefone. E não foi com uma anedota, foi com uma coisa parecida dita pela Rita, já em fim de conversa.

Depois de desligar, lembrei-me de uma pessoa especial. A avó dizia nestes dias que "o diabo andava à solta" e por isso havia mil e um cuidado com os animais da "quinta pedagógica" (ainda não as tinham "inventado", mesmo que elas já existissem...), para que não fugissem. Sim eram eles que mais nos faziam sentir que se iria passar algo de estranho, por isso relinchavam, uivavam, piavam e sei lá que mais...

E eu fiquei a pensar que todos os Deuses, grandes e pequenos, têm mil razões para libertarem a sua fúria pelo animal, que consegue a proeza de ser o mais inteligente, e ao mesmo tempo, o mais burro, de todos os que andam por aqui, nesta bola quase redonda que chamamos Terra, mesmo que seja mais mar.

O que posso dizer é que há muito tempo que não assistia a uma coisa assim. Tive de deixar a varanda apenas com a mesa e a sua cobertura, que parecia um balão e prometeu vezes sem conta, voar, mesmo que estive bem presa...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


terça-feira, março 18, 2025

Ela olhava para aquele descampado, quando me disse: «Eu morei aqui...»


Ela olhava para aquele descampado, quando me disse: «Eu morei aqui...»

Além de umas hortas, não havia mais nada por ali. A encosta era um espectáculo, virada para o Tejo. Apeteceu-me dizer uma piada, parecida com a que a presidente da Câmara de Almada, tinha dito, em relação às vistas do Bairro do "Picapau Amarelo". 

Ainda bem que não disse... A poesia da coisa, estava mesmo apenas na paisagem...

Há situações que nunca iremos perceber, se não passarmos por episódios iguais ou parecidos, como não termos um lugar onde viver. Quando as nuvens aparecem no céu, sentimos que temos de construir qualquer coisa, para não vivermos ao relento, quando a temperatura começa a baixar. Quanto mais não seja, para proteger os nossos filhos...

Ela continuou a falar: «Tinha sete anos, era uma miúda chata porque não percebia a razão de não podermos viver numa casa igual às das outras pessoas. Aliás, ainda hoje não percebo.»

Não precisei de perguntar nada, ela antecipava-se:

«Felizmente as coisas melhoraram e depois do Verão mudámos de bairro e fomos viver para uma casa, grande, com os meus tios, que também viviam aqui, onde havia espaço para todos. Éramos 10 pessoas, mas não era nada mau, havia dois quartos para os adultos e um para os rapazes e outro para as raparigas.»

Até me falou do "buraco"...

«Imagina não teres casa de banho, nem nada que se parecesse, a não ser o "buraco" colectivo e passares a ter duas?»

Consegui imaginar...

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)


segunda-feira, março 17, 2025

A poesia dos livros e da vida...


Esta semana vou tentar falar mais de poesia e menos de outras coisas, mais desagradáveis e feias.

Sou leitor de poesia. Normalmente, são estes os livros que me acompanham em viagens ou em lugares que sei, que tenho de ficar à espera no mínimo alguns minutos...

E é por isso que sei que quase todas as editoras fazem questão em ter boas colecções de poesia (além de serem edições bonitas, as escolhas de autores também revelam qualidade), mesmo que digam que são livros que não vendem e que têm tiragens sempre curtas.

E isso é o mais curioso. Se não vendem, porquê esta aposta em edições memoráveis e de dimensões que tentam escapar à vulgaridade?

Talvez gostem muito de poesia. E provavelmente, até são capazes de vender alguma coisa...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, março 15, 2025

Quando o mundo tem a sua real dimensão


Estava ali, no meio de toda aquela gente, e acabei por pensar na possibilidade remota de poder encontrar alguém conhecido, nem que fosse apenas de vista, um daqueles vizinhos que conhecemos e com quem nunca falámos.

Às vezes acontece. Aconteceu por exemplo em Paris, há quase quarenta anos, que fiz o "inter-rail". Mas isso foi a excepção que confirma a regra. 

Hoje a "novidade" é um mundo ser mesmo gigante, e não o que gostamos de dizer, mesmo que seja mentira: "olha como o mundo é pequeno"...

Houve alguém que se aproximou de mim e perguntou-me algo em inglês. Disse que não falava inglês (o inglês de praia não conta...). Digo isto vezes se conta em Lisboa, porque não penso que tenha de ser eu a fazer um esforço para perceber quem chega. Penso exactamente o contrário. Quando saio do país não faço perguntas em português a ninguém. Era bom que quem vem de fora fizesse um esforço para dizer outras coisas para além de "bom dia", "obrigado", "merda" ou "foda-se".

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, março 14, 2025

Eles pensam que o que está a dar é "imitar" o Chega e o "rei da américa"...


Parece que esta gente do PSD anda completamente alucinada. 

Parece não. Anda mesmo. E a "droga" do poder, é terrível, como pudemos observar pelas várias versões da crise, que é culpa de toda a gente, menos de Montenegro e do PSD. Tentam todas atingir o PS e o seu líder, porque ele é o único que lhes pode atrapalhar a sua participação nos "jogos do poder".

O mais curioso, foram as palavras do "gatinho", que é presidente da Assembleia da República. O senhor que nem sequer rosna com as jabardices diárias do Chega, disse que o líder do PS em apenas seis dias tinha feito mais mal à democracia que o Ventura em seis anos. 

É obra, ser-se capaz de dizer uma coisa destas!

O senhor deve pensar que somos todos "amaricanos" e gostamos de comer "gelados com a testa". 

E a avózinha Leite que quis "suspender" a democracia, diz que isto é o caminho para a ditadura (talvez até esteja feliz, se for esse o caso). O rapazola que anda pelas europas, para não se ficar atrás, apelidou o PS do "Chega da esquerda".

Eles só podem pensar mesmo, que o que está a dar, para ganhar votos e eleições, é "imitar" o Chega e o "rei da américa" e criar realidades paralelas...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, março 13, 2025

Uma manhã bem passada na escola...


Hoje passei parte da manhã numa escola do primeiro ciclo, na companhia de duas turmas do quarto ano.

Fui convidado para falar sobre a Liberdade de Expressão e de Informação, ainda no âmbito da comemoração dos 50 anos da Revolução de Abril (pelas professoras Ângela e Edite).

Acabou por ser uma sessão bastante gira e viva, com largas dezenas de perguntas feitas por aquelas crianças curiosas (a maior parte das perguntas foram feitas por miúdas...).

Falámos de muitas coisas, do antes, e do depois de Abril. Começámos pelos jornais com censura, trazendo quase colados, o Salazar, o Marcelo e a PIDE. E depois veio a liberdade, o PREC - com os usos e abusos próprios das revoluções - o 25 de Novembro. E também falámos de coisas destes nossos tempos, no mínimo estranhos...

Graças às perguntas foi possível aprofundar mais algumas coisas, como a "arte de driblar" a censura, escrevendo pelas entrelinhas. Também falámos dos livros proibidos e apreendidos. O grande Zeca e a sua "Grândola"  e os "Vampiros" apanharam boleia, também quiseram estar presentes, para "animar (ainda mais) a malta".

Quiseram saber como tinha sido o meu 25 de Abril... E eu disse que foi um dia sem escola, a brincar no quintal da minha casa, com a minha mãe presa à rádio, a querer saber as últimas novidades da Revolução. Foi quase um dia normal, tirando a parte de não haver escola, não fosse eu um rapaz de apenas onze anos...

Gostei da manhã passada na escola, e penso que a miudagem também gostou de ficar a saber mais coisas (curiosidade foi coisa que não lhe faltou...) de Abril.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, março 11, 2025

A "futebolização" da política, numa terça-feira à tarde


Hoje a política teve a relevância dos jogos grandes de futebol, foi quase um "Benfica-Sporting". Durante a tarde foi possível assistir a vários "jogos" e "joguinhos", em directo nos canais de notícias da televisão.

Não esperava que o PSD fosse perdendo a arrogância, quase minuto a minuto, e estivesse quase, "disposto a tudo", para continuar no poder.

Era tarde demais e o governo fingia "não saber"... Ou então faziam um último esforço para que o PS caísse na sua "ratoeira" (da qual dificilmente sairiam nos últimos tempos...).

Não sei até que ponto a sondagem publicada de manhã no "Diário de Notícias" - em que era dada uma diferença de cinco pontos entre o PS (30%) e o PSD (25%) -, teve influência nesta mudança do PSD, mais "teatral" que outra coisa,  durante a tarde...

É difícil saber o que vai acontecer com novas eleições, porque as gentes de Portugal e do  Mundo, são cada vez mais, uma "caixinha de surpresas"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, março 10, 2025

O cúmulo da hipocrísia, do cinismo e da irresponsabilidade


Continuar a ouvir os ministros, secretários do Estado, deputados e militantes do PSD, a dizerem que não querem eleições, quando estão a fazer tudo para que isso aconteça, é o cúmulo da hipocrisia, do cinismo e da irresponsabilidade política.

Tentam "vergar" o PS (que se percebe que não está preparado para eleições...), fazer com que este dobre os joelhos, e no mínimo, se abstenha na votação da moção de confiança, que deve ser apresentada amanhã. O seu secretário geral percebe que se fizer isso, faz com seja cada vez mais evidente a sua subalternização e irrelevância, em relação ao partido que está no poder.

Há já algum tempo que percebi, que o primeiro-ministro não tem noção da exigência e da responsabilidade do cargo que exerce (continua a achar que só deve dar as explicações que quer e no seu tempo...). Montenegro não percebe (ou não quer perceber) o que é relevante neste caso e o que não tem importância nenhuma. Diz coisas sobre a sua vida familiar e pessoal que não têm nada a ver com o caso. Só falta dizer a cor de meias que usa, assim como a sua roupa interior, da sua mulher e dos seus filhos, ao mesmo tempo que evita falar do que realmente interessa: do dinheiro que recebeu, das pessoas com quem e para quem trabalhou, e claro, do modelo de gestão da sua empresa.

Não dá respostas concretas e ainda tem o desplante de culpar os partidos da oposição, acusando-os de "criarem" este problema (habilmente não fala dos jornalistas, que foram a "causa" do problema...).

É também por isso que fico curioso quanto ao resultado das mais que prováveis eleições. 

Num país normal, ficava quase tudo na mesma (com descidas ligeiras do PSD, BE e Chega). As única subidas seriam as da Iniciativa Liberal e do Livre, que têm tido uma presença parlamentar responsável, sem "casos e casinhos", no interior dos seus partidos.

Mas continuamos a ser uma incógnita, até porque quase metade dos eleitores não votam...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


domingo, março 09, 2025

Coisas difíceis de entender...


Sei que este título é enganador. Podem pensar que vou escrever sobre a "rábula" encenada pelos sociais democratas, que acham ser possível dar "tiros nos pés" e mesmo assim, melhorar o número de votos (tendo como referência as últimas eleições). É a única explicação que encontro para a sua aposta em novas legislativas....

Vou falar de eleições, mas num outro prisma, mais focado na sociedade em que estamos inseridos.

Não consigo perceber que, num país como o nosso, onde se vive com cada vez mais dificuldades económicas, a maior parte das pessoas que votam, ofereçam o seu voto aos partidos de direita, que defendem tudo menos os seus interesses.

Não é por acaso, que o fosso entre ricos e pobres está cada vez mais largo e fundo, com os ricos a serem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

E tudo indica que é que vai continuar a acontecer, com novas eleições para o Parlamento...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, março 08, 2025

As mulheres, a política e o voto "contra elas próprias"...


Continua a fazer-me bastante confusão a forma bastante peculiar, e desigual, com que se olha para a mulher, no nosso país e no mundo.

Por hoje se festejar o "Dia Internacional da Mulher", ainda é mais pertinente escrever algumas linhas sobre algumas das diferenças, que já se deviam ter esbatido, até por muitas delas estarem legisladas. 

Só falta mesmo colocá-las em prática...

Lançando um olhar ainda mais abrangente, não consigo entender os exemplos do Brasil (quando elegeu Bolsonaro) e dos EUA (que agora reelegeu Trump), sem ficar estupefacto. 

Se pensarmos que as mulheres normalmente estão em igualdade (e às vezes até em maioria...), em relação ao número de votantes, não compreendo como é que são possíveis estes resultados eleitorais. Fico sempre com a sensação de que as mulheres votam "contra elas próprias" (tal como algumas minorias...).

Ou seja, sinto que há mudanças que dependem mais delas, que da própria sociedade. Pelo menos no dia das eleições...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, março 07, 2025

Todos diferentes e todos iguais...


Eu penso que sei qual é a melhor maneira de tratar as pessoas com qualquer deficiência, e até me parece algo simples. Sim, é tratá-las da mesma maneira que todas as outras, sem nunca esquecer as suas naturais limitações.

Mas nem sempre é fácil. Até porque a parte física que nos torna diferentes, muitas vezes é a "arma de arremesso" que está mais à mão, para nos tentarem atingir e diminuir como pessoas. Ainda há pouco tempo, assistimos a uma situação dessas no Parlamento. Curiosamente, protagonizada por duas mulheres, que nestas coisas, até costumam ser mais comedidas que as "bestas" masculinas, pelo menos aquelas que ainda acham que "um homem não chora".

Nunca me esqueço de um senhor que conheci na adolescência, que tinha uma corcunda ligeira, que gostava pouco de burburinhos e dizia - especialmente aos cobardes -, que já era marreco nas costas, pelo que preferia que quem o quisesse chamar daquela forma, o dissesse pela frente. O curioso é que esta sua posição resultava. Ninguém usava a sua aparente diferença, para o reduzir ao que quer que seja.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, março 06, 2025

Talvez elas se sintam mais úteis ao mundo...


Estava a passar e fingi que não vi, quatro miúdos, aliás duas miúdas e dois miúdos, a fumarem erva e com uma vontade enorme de provocar quem passava, no quase carreiro que percorro todos os dias, a poucos metros da minha casa.

Não deviam ter muito mais de catorze anos. Ou então tinham ficado pequeninos. 

Passam por ali centenas pessoas, diariamente, mesmo assim eles fazem questão de "marcar aquele território" como seu, a fumar coisas aromáticas e a falar alto, e não num lugar mais recatado (existem vários a poucas dezenas de metros...). 

Sem que tivesse muito a ver com o assunto, lembrei-me de duas amigas, professoras, que continuam a dar aulas no Monte de Caparica, nas escolas que acolhem a juventude que habita no famoso Bairro do "Picapau-Amarelo". 

Dão aulas há bastantes anos, podiam ter mudado de escola, mas nunca o fizeram. Nunca lhes perguntei porquê.

Talvez gostem de ser desafiadas diariamente, pelos rapazes e raparigas, a quem a vida (e a sociedade...) obriga a terem comportamentos diferentes, mesmo que tenham os mesmos sonhos dos "meninos" e meninas", com menos rua e mais atenção dos pais... 

Quando estiver com elas, vou perguntar-lhes, mesmo que pense saber "bocados" das suas respostas...

Sim, talvez no Monte algumas coisas façam mais sentido, talvez elas se sintam mais úteis ao mundo...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, março 05, 2025

O começo de qualquer coisa...


É giro, mesmo que nem sempre seja uma coisa engraçada. Acontece que agora tenho sempre um tema especial na cabeça, cuja conjugação de palavras, quer ser livro.

Logo agora, numa altura destas em que os livros estão a deixar de ser o que eram...

Os últimos livros que escrevi foi sobre centenários de pessoas especiais. É provável que aconteça o mesmo em 2025... 

Desta vez são crónicas, ou um olhar mais pessoal do que todos os outros, porque misturo mais coisas...

O rascunho de uma delas começa assim:

«A conversa no fim do dia, ao jantar, naquela bela marquise, com o Tejo já a querer ser Mar eram uma coisa…
A televisão tinha pouco interesse lá em casa. E ainda bem.
Falava-se mais, sobre tudo e sobre nada. E também se lia bastante.
Por isso é que falávamos sobre as notícias dos jornais, o mundo estava longe de nos ser indiferente…»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, março 04, 2025

Paredes brancas...


Ainda não tínhamos visitado um amigo, lá por casa.

Nos últimos anos os nossos encontros eram feitos quase sempre nos nossos espaços preferidos, como "escritórios", os cafés. Ou melhor, esplanadas, porque ele continua a ser um "Zé que fuma", e nos cafés e restaurantes hoje aceitam-se mais animais de companhia que fumadores...

O que me espantou foram as paredes vazias das duas divisões da casa. Ele que conheceu e conhece pintores e fotógrafos com jeito para a coisa, e que com toda a certeza, lhe eram capazes de oferecer uma imagem qualquer, para lhe fazer companhia.

Pois foi... Nem me passou pela cabeça que fosse uma opção pessoal. 

Quando lhe falei do excesso de branco, limitou-se a sorrir...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, março 03, 2025

Uma visão e uma memória, dentro e fora de um bairro antigo...


Estava a passar por uma ruela estreita, com roupas estendidas em quase todas as varandas, quando comecei a ouvir uma voz feminina, que cantava um fado. Ainda olhei para cima para ver se a voz tinha dona, mas não descobri ninguém. 

Por alguns instantes, fiquei deliciado com aquele retrato de uma Lisboa antiga, e pus-me a imaginar uma cidade que já não existe...

Foi quando me cruzei com dois casais de gente de fora, que anda de calções num dia de Março com nuvens. Foi como se me dissessem, "acorda!"

E acordei, mas por pouco tempo.

De repente já não estava em Madragoa. Foi quando viajei pela minha meninice e ouvi a minha mãe a cantar, e o pai, com voz de desdém, a dizer que ela estava a adivinhar chuva. Não percebia quase nada da conversa mas gostava de ouvir a minha mãe a cantar, mesmo que ela fosse fiel à sabedoria popular, e acreditasse que "quem canta seus males espanta"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, março 02, 2025

O fim da utopia do empresário "bom samaritano"


Parece que estou a ouvir o meu amigo Orlando, a usar a sua ironia, por vezes demasiado fina e inteligente, ao ponto de não ser entendida por todos. «Estás a ver esta camisa? Gostas dela? Foi uma oferta do meu patrão.» 

Ele dizia coisas deste género, sempre que ouvia alguém a defender o indefensável. Sim, de vez enquanto ouvia-se um trabalhador com posições mais próximas dos patrões que dos operários. Só faltava chamar-lhes, "pobres coitados"...

O mundo mudou bastante. É possível dizer hoje, publicamente,  coisas que antes só se diziam em círculos muito fechados, com gente de inteira confiança, mesmo ao mais alto nível.

É por isso que atitudes como a do presidente americano, em relação à Ucrânia, ou a do nosso primeiro-ministro, em relação à sua actividade empresarial, ajudam-nos a perceber como funciona o verdadeiro empresário. Ele olha para tudo o que o rodeia, sempre com uma finalidade maior: a possibilidade de obter lucro, de retirar dividendos pessoais.

Pois é, o populismo dos nossos dias, também tem coisas perversas. Por vezes o "feitiço vira-se contra o feiticeiro". Uma delas parece ser o fim da utopia do empresário "bom samaritano"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, março 01, 2025

Humanizar o "fantasma" de Salazar...


Li com atenção o artigo de opinião de Pacheco Pereira de hoje do "Público", sobre a participação do Arquivo Ephemera na instalação de um espaço museológico em Santa Comba Dão dedicado ao estudo do Estado Novo (Centro Interpretativo do Estado Novo - Regime e Resistência).

Quem como eu passa uma boa parte do tempo a fazer investigação histórica, a remexer papeis cheios de pó (que me fazem espirrar mais vezes do que as que queria...), ficou satisfeito com a explicação do historiador. 

Até porque a passagem da "Escola Cantina Salazar" a "Centro Interpretativo do Estado Novo" tem muitas vantagens. Além de preservar a memória desses 48 anos, quase sempre tenebrosos, vai contribuir para se acabar com a "mitificação" de um homem, que por vezes chega a ser confundido com um "fantasma". 

Como Oliveira Salazar existiu mesmo, o melhor que temos a fazer, é encará-lo de frente, com as suas virtudes e defeitos, como qualquer ser humano e dar-lhe o espaço devido na história.

Ao limparmos "a poeira" e a destapar "os panos" que cobrem este período da nossa história recente (que nos deixou bastantes marcas físicas e psicológicas...), estamos a dar outro contributo, não menos importante: esvaziamos o mito e o culto que se presta a um ditador de má memória, por uma extrema-direita (que a esta hora deve estar a torcer o nariz a esta decisão da autarquia local...), que sempre que pode, tenta branquear a história. 

É com esta transparência (muito diferente da do primeiro-ministro...) e abertura histórica, que se irá conseguir derrotar a mentira e todas as mistificações salazaristas, que se têm perpetuado no tempo.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)