terça-feira, agosto 27, 2024

A liberdade, a identidade sexual e a "feira de rótulos" que floresce à nossa volta...


Enquanto passava junto de um grupo de jovens, percebi que duas adolescentes que estavam de mão dada, estavam a ser gozadas por esta sua atitude de carinho, que poderia, ou não, ter qualquer carga sexual.

Fiquei a pensar naquele episódio, enquanto continuava a minha marcha e eles iam ficando para trás. Nos meus tempos de adolescente era normal ver amigas a passearem de mão dada, sem que lhe fossem colocados quaisquer "rótulos".

Sei que nesses tempos a sociedade era bastante mais fechada e quase que obrigava as pessoas com opções sexuais diferentes a serem discretas, escondendo o que sentiam dos olhares públicos. 

Hoje passa-se outro fenómeno. Quando as pessoas são discretas em relação à sua sexualidade, se andarem sempre com a mesma pessoa (rapaz ou rapariga...), os outros começam a ver coisas, que até podem até ter alguma razão de ser, mas que ninguém tem nada a ver com isso.

Por vivermos em cidades diferentes e termos vidas também diferentes, eu e o meu irmão, estamos tempos e tempos sem nos vermos. Há dois anos, passámos três dias juntos, numa viagem pela Beira Baixa, com paragem na aldeia onde o meu pai nasceu. 

Num dos restaurantes onde fomos jantar, senti que havia uma simpatia exagerada por parte da senhora que nos servia. Reparei também que falava uma colega mais nova, quase ao ouvido, entre a cozinha e a sala de refeições, enquanto nos olhavam. 

Sei que não são só os homens que são atrevidos. Mas não era o caso, pois ela não nos oferecia qualquer "olhar guloso". Depois de nos retirarmos, fiquei a pensar que talvez tenhamos passado por um casal de namorados, nas suas cabecinhas tontas, pela forma alegre como conversávamos um com o outro (mesmo que seja o que os irmãos fazem quando gostam uns dos outros...)...

Embora a nossa opção sexual possa ser assumida hoje com mais liberdade, uma boa relação entre pessoas do mesmo sexo, também pode ser mal entendida com mais facilidade, por a nossa sociedade se ter transformado numa "feira de rótulos"... 

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


2 comentários:

  1. Sou mais antigo, e lembro-me que era não raro verem-se soldados vindos das berças que se passeavam de mão dada na cidade e ninguém inferia senão mútuo amparo.

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    1. Pois, parece que há mais direitos, mas menos liberdade.

      E nota-se que há mais preconceitos, também por sermos um país muito menos fechado ao exterior.

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