Há poucos livros que nos possam oferecer um retrato tão fidedigno do nosso país, como estes diários que percorrem os anos do salazarismo e marcelismo e estão escritos sem ter qualquer parcimónia, com os ditadores e esse tempo com tantas tonalidades de cinzento.
Quem como eu escreve diariamente nos blogues, no fundo alimenta um "diário digital", onde também quase tudo nos é permitido (tal como acontecia com Torga, embora as suas palavras sejam mais espaçadas, pois cada diário percorre no mínimo cinco, seis anos). Felizmente não temos censores nem polícias de estado em volta (os "polícias do gosto" de agora valem e incomodam muito pouco...).
E Torga é muito assertivo nas suas palavras. Muito antes do norte-americano Mcnamara ter descoberto as ondas gigantes da Nazaré, já ele escrevia no Sítio (em Agosto de 1969): «Quando quero ver o mar, venho aqui. Não é grandeza que se olhe do rés-de-chão.»
(Fotografia de Luís Eme - Costa de Caparica)
Os diários do Torga tal como os diários do Vergílio Ferreira (Conta-Corrente), são duas pérolas da literatura portuguesa.
ResponderEliminarSão diferentes, Severino. Acho os diários de Torga mais leves (e objectivos) que os de Vergílio Ferreira.
EliminarConheci o mar da Praia Velha quando era criança e tinha medo dessas ondas enormes.
ResponderEliminarDo mar da Nazaré retenho os deliciosos verões da infância e da adolescência mas também as tragédias dos naufrágios.
Muito tardou o Porto de Abrigo.
Miguel Torga é genial em todos os géneros que escreve.
Abraço
Pois é, o Torga é dos nossos melhores, Rosa.
EliminarTambém estou habituado a mares ruidosos e com ondas grandes, basta dizer que a Foz do Arelho é a "praia da minha vida"...