Normalmente chamo-lhes os "livros improváveis". Foi desta forma que redescobri o "Retrato Inacabado (memórias)" da autoria da actriz Carmen Dolores. Por gostar deste género literário aceitei o desafio e devo desde já dizer que foi uma bela surpresa.
O que mais sobressai nesta obra é a "verdade" da actriz, a forma honesta como ela olha para dentro e para fora de si, sem ter medo de mostrar as suas fragilidades, iguais às de qualquer ser humano, desde os primeiros tempos até à sua idade madura.
Quando ela escreve, «Com o tempo fui aprendendo que os poetas são homens como os outros, tal como eu, embora actriz, sou uma mulher exactamente igual às outras», tenta aproximar o mundo das artes e das letras do cidadão comum. Ela oferece mais exemplos, ao longo das 160 páginas, porque nunca se sentiu uma "vedeta", ou pelo menos não alimentou essa ilusão, que nem sempre dá bons resultados.
Normalmente nas páginas dos livros de memórias, encontra-se sempre um ou outro capítulo, onde se ajusta contas com alguém, porque as nossas vidas nem sempre são fáceis. Carmen conseguiu resistir a este "lado negro" e apenas ajusta contas consigo própria, todas as outras personagens que passam pelo livro são tratadas com respeito, carinho e muita camaradagem.
Apesar de ser um livro simples, tocou-me bastante este "Retrato Inacabado", de Carmen Dolores.