No fim do descampado lá surgiu o velho barracão, ainda com alguma imponência, mas sem portas ou janelas. Ainda era visível a chapa ferrugenta com o nome da segunda vida, como "casa de sonhos", sem esconder que no passado fora uma fábrica de tijolos.
Os donos fartos de saber que as discotecas passavam de moda rapidamente, fizeram um investimento quase curto. Depois de ser discoteca, ainda foi quase um "templo de rock alternativo", com música ao vivo às sextas.
Foi lá que o Rui e a malta da sua banda fizeram a estreia em concertos ao vivo. Quem os ouviu diz que tocavam bem, com o Rui a cantar em português (foi lá que cantou uma letra da minha autoria, a "Viagem"...). Gostavam de tocar, de se juntar e criar. Não pensavam em discos, muito menos em ganhar camiões de dinheiro. Pelo exemplo do Rui, penso que nunca se levaram a sério, foi por isso que nem sequer pensarem em abandonar os seus empregos tristes.
Pouco tempo depois o barracão foi obrigado a fechar por estar completamente "fora da lei". Não foi difícil de perceberem que o "fim" estava um pouco à frente, depois da esquina.
Não se chatearam, simplesmente acharam que aquela brincadeira musical foi perdendo a graça, provavelmente por não terem encontrado qualquer estrada com setas para o futuro. Começaram a vender o material da banda e prometeram deixar de sonhar por uns tempos... pelo menos sonhos com som.
Lembrei-me desta história por ter passado ao pé da velha fábrica e por saber que o Rui não voltou a tocar e a cantar, nem mesmo no banho (pelo menos é o que ele diz)...
(Fotografia de Luís Eme)
Quando os sonhos morrem, não há como ressuscitá-los.
ResponderEliminarAbraço
Pois não, a realidade pode ser terrível, Elvira.
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