Vamos morrendo um pouco todos os dias, mas há dias em que "morremos" vários anos seguidos...
Foi mais ou menos isto que a mulher de mais de setenta anos disse, quando à hora das telenovelas começou a chover, e todos voltámos a sorrir na esplanada coberta...
Ninguém lhe respondeu. Fingimos todos estar mais interessados na chuva que estava a lavar as ruas e a disfarçar o nosso sentimento de culpa, por não conseguirmos fazer nada, para alterar o rumo de um país que gosta de aproximações ao abismo.
Mas a mulher precisava de desabafar. E continuou a falar, a dizer o que quase todos sentíamos: «Agora não foram só duas ou três terras queimadas, foi o país quase todo. Todos conhecemos uma aldeia ou uma vila que ficou destruída, ou alguém que tem um familiar ou amigo que perdeu tudo...»
E continuou, agora mais enraivecida: «E nenhum destes bandidos que governa se vai embora.» Nós continuámos a fingir-nos entretidos com os fios de água que caíam e já formavam poças.
E continuou, agora mais enraivecida: «E nenhum destes bandidos que governa se vai embora.» Nós continuámos a fingir-nos entretidos com os fios de água que caíam e já formavam poças.
A mulher que falava por nós todos ainda foi capaz de dizer: «Só espero que não desate a chover sem parar. Só faltava virem as cheias a seguir...»
(Fotografia de Rui Oliveira - N.Magazine)
a imagem ilustra bem...
ResponderEliminarContinuo a pensar que os "milagres" somos nós que os fazemos, Laura...
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