O Zé disse-me, com um sorriso nos olhos, que a ausência de dinheiro fácil está a expulsar os oportunistas do mundo da cultura. Não sei se é bem assim.
Ele pode ter razão quando diz que nunca se ganhou tão pouco dinheiro a cantar, a tocar, a pintar, a filmar, a fotografar ou a escrever. É ligeiramente mais novo que eu, ou seja ainda é do tempo em que se vendiam discos pequenos e a internet era uma incógnita, olhada de lado por uns e quase um sonho para outros.
Mas também se devia lembrar que nunca houve tanta gente a acotovelar-se e a querer ser alguém nas culturas...
Claro que ele conhece melhor o meio que eu. Fez parte de boas bandas da Margem Sul graças ao seu talento como guitarrista. Depois começou a produzir, onde ainda continua...
Consumidor cultural e companheiro de uma realizadora de filmes (cada vez mais de publicidade...), conhece muita gente e oferece-me exemplos. Artistas plásticos que trabalham quase exclusivamente com os computadores, porque não lhes apetece sujar as mãos e andar a gastar dinheiro em telas e tintas. Poetas que escrevem em blogues e oferecem os poemas em folhas soltas aos amigos. Músicos que são vendedores de qualquer banha da cobra, empregados de bares e até seguranças em jogos de futebol. Fotógrafos que circulam à volta das estrelas das telenovelas e do futebol, trabalhando à peça. Dos filmes tem o exemplo da Catarina lá em casa.
Eu limitei-me a recordar-lhe que quando o dinheiro voltar, eles regressam (se é que se estão a afastar)...
(Fotografia de Alberto Galducci)
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