A vida vai tornando as ruas cada vez mais longas, afastando-nos inevitavelmente de esquinas e lugares onde sabemos que podemos encontrar a Etelvina ou o Serafim (escolhi estes nomes porque ofereço-os muitas vezes à minha filha e ao meu filho...), e até a Miquelina...
Lembrei-me disto depois de receber o telefonema de um amigo que também escreve livros, a reclamar, por eu nunca aparecer, entre outras coisas.
Foi então que dei por mim a separar as pessoas de quem gostamos em dois grupos: as que gostamos de ver e as que precisamos de ver. As do primeiro grupo, normalmente são de boa memória, mas sabemos que podemos encontrá-las em qualquer altura, nunca é uma urgência. O precisar é diferente, muitas vezes é para ontem, até conseguimos desmarcar coisas só para estarmos com estas gentes especiais, capazes de nos encher a alma e fazer sorrir até aos dramas...
Ainda de volta ao telefonema, que me fez pensar nestas coisas, embora goste deste prosador de mão cheia, não me senti nada confortável com a última conversa que tivemos, com mais três personagens também ligadas aos livros, até por me sentir forçado a defender o alvo de todos os ataques (a maior parte deles injustos...), que conheci na época em que escrevi o meu primeiro romance e que se revelou um bom companheiro. Além de me dar várias sugestões para melhorar o livro, apresentou-me vários escritores e ia-me falando de livros que tinha gostado e que eu devia ler.
Naquele momento não pensei no editor ou no antigo secretário de estado da cultura. Pensei apenas no homem simples e bonacheirão (tem a minha idade mas sempre pareceu mais velho, mesmo hoje ainda me leva uns "seis" anos de avanço...), com quem troquei tantas ideias sobre futebol, jornalismo e livros...
Sei que o meu amigo não levou a mal as minhas palavras, por saber que detesto injustiças. Agora os outros três fulanos, que têm de ter algum cuidado para não morder a língua, devem ter-me pintado de todas as cores, depois de os deixar na mesa de café a "pintar mais mantas". É por isso que me telefona e me fala do que está a escrever e quer saber coisas de mim...
Um dia destes a gente encontra-se. Mas não precisa de ser hoje...
(Fotografia de Luís Eme)
Luís, tenho pessoas, poucas, pelas quais altero sem qualquer dificuldade todo um programa. Procuro ser muito restrita neste tipo de flexibilidade por causa das decepções.
ResponderEliminarEu também. É normal, Isabel, nesta "correria" cada vez mais louca. :)
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