O António nunca se sentiu diminuído pela ausência de anos de prisão no seu passado antifascista. Muito pelo contrário, sorri de contentamento quando recorda as muitas vezes que esteve "quase, quase", mas que sempre conseguiu escapar. Foram inúmeras as vezes que teve de se ausentar para parte incerta, durante algum tempo (a sua profissão ligada ao comércio ajudava nessas "fugas"), até que recebesse a informação de que as coisas tinham acalmado e já não havia ninguém a cirandar a sua rua.
Sente um orgulho secreto por ter escapado a mil e uma armadilhas, por ter sido quase sempre extremamente cuidadoso (ainda hoje há quem lhe chame picuinhas, esquecidos que foi isso que tantas vezes o salvou...).
Sorri quando se metem com ele e lhe dizem que é menos "herói" que outros, cujo passado conhece de fio a pavio, e por isso mesmo sabe, que a única coisa de relevante que fizeram foi andarem demasiado distraídos, ao ponto de serem feitos prisioneiros, colocando outros camaradas e o próprio Partido em risco.
Tem mil e uma histórias rocambolescas, que ainda estão por contar, além de outras mais que batidas, como as da tipografia portátil que funcionou em vários lugares, onde imprimiu juntamente com outro companheiro milhares de "avantes" e de outros folhetos, que foram distribuídos nas fábricas e nas colectividades da então vila de Almada...
O António é o melhor exemplo que conheço de que é um erro analisar a capacidade de luta e de intervenção antifascista, pelos anos que se têm de prisão.
(Óleo de Leon Mathieu Cochereau)
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