Os anos passam e a dúvida cresce, ao ponto de colocar quase toda uma vida em causa...
Já lhes chamaram muita coisa, até egoístas. Podem ter sido tudo, menos isso...
A mulher fica com os olhos húmidos quando revive o que sofreu na prisão, na clandestinidade, no exílio... mas sobretudo, por não ter visto o seu filho crescer. O homem afaga-lhe o cabelo, com o carinho de quem nunca deixou de amar.
Sabe que não foi a mãe que devia ter sido. É por isso que percebe a ausência do seu Carlos, que teve de abandonar com menos de um ano e deixar ao cuidado dos pais.
O homem tenta desculpá-los com as incidências da própria vida, com a dificuldade que sempre tiveram em conviver com a injustiça nos locais de trabalho, com as perseguições, o desemprego, e a luta colectiva, que alguém tinha de travar...
Mas a solidão passa o tempo todo a pregar-lhes partidas. Pensam demasiado na vida.
Olham para o país com desconsolo, porque já não sabem se tudo o que sofreram valeu a pena. Não sabem explicar as razões, mas a verdade é que os patrões continuaram, e continuam, a roubar o povo, cada vez com mais descaramento.
Olham para o filho com orgulho por ter conseguido ter uma vida melhor que eles, mas sentem muito, muito, a sua ausência...
(Fotografia de Sena da Silva)
a foto é belíssima, Luis :)
ResponderEliminarPois é, Laura. :)
EliminarDe uma outra Lisboa.
Luís, para se conseguir algo um pouco melhor, é preciso lutar muito, muito.
ResponderEliminarBela foto!
Pois é, Isabel. Muito mesmo.
Eliminaro fim é tão imprevisível....
ResponderEliminarabç
Pois, Margoh...
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