sexta-feira, março 11, 2016

O Sonho não Enche Barriga (e diz-se que é no aproveitar que está o ganho)...

Ontem andei "perdido" por Lisboa e a meio do caminho escrevi:

Quase que deixámos de "existir".
É como se tivéssemos vendido
a Cidade a todos estes turistas
de várias idades, cores,
palavras e nacionalidades.

Trespassamos lojas, restaurantes
museus, entre outras lugares errantes...
Fizemos de cada lisboeta um guia,
mas o seu sorriso aberto é diferente,
foi vendido a este "reino da fantasia".

Até as almas sonhantes
dos bairros do antigamente
se renderam-ao poder do dinheiro,
alugaram as suas casinhas
e estão a viver no "galinheiro"...

Claro que há algum exagero nas minhas palavras, mas foi o que saiu... E resolvi não retirar as vírgulas.

(Fotografia de Luís Eme)

14 comentários:

  1. Luís, também ontem à noite andei por Lisboa e tive a mesma sensação enquanto percorria a zona do Chiado. Quase que não ouvi falar português.
    Por vários motivos, vou a Lisboa com frequência e de há um tempo para cá tenho constatado a realidade que tão bem expressas no poema.
    Há uns dias 'apanhei' uma reportagem muito interessante sobre este assunto e a necessidade de 'devolver' as cidades aos cidadãos. Questionava-se, e bem, se as cidades que os turistas encontram não serão demasiado artificiais, esvaziadas de vida própria, de genuinidade... Lisboa e Porto não estão bem a este nível. "Um dia destes ainda temos de contratar figurantes..." - dizia alguém ligado ao Turismo.
    Bom, trazeres aqui este tema.

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    1. E não falta para aí gente com vontade de fazer de "figurante". Desde que paguem bem (o que é difícil neste país...), Isabel.

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  2. Pode não encher barriga - o sonho - mas enche,indubitavelmente, a alma!
    E o seu belo post, poema e imagem, estão primorosos, para nenhum turista 'botar defeito'...:)

    Lá vou eu voltar ao mesmo, Luís. Queixam-se os bairristas que Lisboa se descaracterizou em prol do dinheiro, mas se os belos miradouros, monumentos, rua e Museus, estivessem às moscas, lamentavam-se que temos uma cidade tão linda e ninguém a visita.
    Todas esses 'camones' que pululam pela cidade, são uma mais-valia para a nossa economia.
    Ganhar com o aproveitar, já acontece lá para os lados da Costa e das localidades perto do mar. Aproveitam o verão, alugam as suas casinhas para terem o que comer no inverno. Não, não é uma Fábula - como a da formiga e da cigarra - é uma realidade destes conturbados tempos de crise!

    O poema saiu, com vírgulas e tudo, e, dentro do ligeiro exagero, está bem de acordo com o que se passa, sim senhor!! :)

    PS- A cidade Invicta também está uma beleza, desde o Cais da Ribeira à Sé, e recomenda-se!!!

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    1. Pois, parece que nunca estamos bem, Janita. :)

      Mas de qualquer forma, uma cidade sem vida própria, torna-se quase um "parque temático"...

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  3. Eu não vejo isso como mau. A baixa do Porto estava abandonada, prédios a cair, abandonados. Acho-a muito melhor agora, mais bonita e com vida. Se o preço de ter uma cidade rivatilizada foi a mesma se encher de turistas, que venham eles.
    Se pensarmos em outras cidades europeias é precisamente a mesma coisa, se ir passar um fim de semana a Viena e está estar cheia de turistas, se me incomoda?! Nem um pouco :)

    Beijinhos Luis

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    1. Mas eu estou a falar antes do abandono, Glória.

      Muitos dos senhorios das baixas do Porto e Lisboa, deixaram as casas sem condições de habitabilidade. Ou seja, afastaram as pessoas destes lugares...

      O que eu penso é que deve haver um equilíbrio. até para não "espantar a caça". :)

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  4. concordo com a vizinha e deixa-me que te diga que a fotografia está belíssima. :)

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    1. Mas eu acho que há diferenças significativas entre Lisboa e o Porto, Laura.

      As pessoas são muito diferentes. E a baixa de Lisboa foi abandonada mais cedo pelos moradores...

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  5. Infelizmente tudo se rende ao rei verde.

    Belo poema!

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    1. Nem mais, Severino.

      E em períodos de crise, ainda é mais visível...

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  6. adorei a foto.
    o poema é um sinal dos tempos.
    mas não podemos ver isso como totalmente mau, também tem as suas benesses.
    Um bom fim-de-semana.
    Beijo
    :)

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    1. Como grande portuguesa que és, Piedade, vez o lado bom da coisa!

      :))

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  7. A fotografia é excelente. O poema retrata o ambiente actual de muitas cidades.
    Não vejo mal nos turistas. Vejo mal nos residentes, verem-se obrigados a vender para estrangeiros as suas lojas, por não conseguirem mantê-las. Porque assim o benefício do turismo acaba por ir para outros países e a nossa gente continua a sobreviver em vez de viver. Não sei se me fiz entender. Mas por cada loja portuguesa que fecha, se abre uma chinesa, espanhola, ou de qualquer outra nacionalidade. Pagam eles impostos como nós? Decerto que não. Pois se assim fosse o negócio que dá para eles, dava para os portugueses.
    Um abraço e bom fim de semana

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    1. É o tal equilibro que faz falta, mas como se inflacionou o preço das casas, Elvira, viver nas baixas é hoje coisa de ricos.

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