Ontem encontrei um rapaz que não devia ver há mais de vinte anos.
Encontrámos-nos por acaso nas ruas de Lisboa. Acabámos por parar num café onde oferecemos alguns minutos de conversa um ao outro.
Falámos de vários tempos e de várias peripécias, desde as aulas de natação que demos em conjunto (que eu evitava, porque ele passava mais tempo a chatear os miúdos que a ensiná-los a nadar...) às noites de quinta-feira em que nos enfiávamos no Bairro Alto com mais dois ou três amigos depois de jantar, e que se prolongavam até ao raiar do dia.
Nesse começo da década de oitenta, em que ainda andávamos a aprender a ser homens, o fado ainda não estava na moda, as prostitutas e os seus "donos" ainda tinham o seu território no Bairro, tanto nas ruas como em alguns bares, que tentavam fintar a modernidade, perfumados com vinho tinto, carapau frito e "águas de colónia" e lacas baratas que as "meninas" (algumas já quarentonas...) usavam.
Perguntei-lhe se ainda cantava o fado. Começou a sorrir e abanou a cabeça a dizer que não. Depois disse-me que continuava a gostar da canção de Lisboa e que ainda sabia de cor os dois ou três fados que cantava sempre que lhe pediam, embora gostasse de se "fazer caro". Pelo menos isso aprendera com as "vedetas", a só responder às chamadas para o palco improvisado com muita insistência...
Claro que falámos de outras coisas, dos filhos que fizemos, das mulheres que amámos, dos amigos que perdemos de vista. Da vidinha, como diria o grande poeta O' Neill...
(Fotografia de Toni Frissel)
Luís, falar da vidinha é muito bom, até porque ajuda a descomprimir dos assuntos que costumamos designar como maiores. Tenho a sensação que cada vez existe menos disponibilidade - e reporto-me menos ao tempo feito horas - para conversar assim.
ResponderEliminarE a foto tem pinta. :)
E eu gosto de falar de outras coisas, de andar para trás e para a frente da minha vida, de partilhar conversas e olhares, Isabel...
EliminarNunca fui aos fados no Bairro Alto e tenho pena.
ResponderEliminarHouve uma série de coisas que não fiz em Lisboa, mas ainda hei-de fazer (nem que me descabele toda! :).
Mas este fado que falo é de "tasca", Carla. :)
EliminarQuando a "Mascote da Atalaia" era isso mesmo...
Encontrar um amigo que não se vê há mais de vinte anos é sempre um momento de alegria.
ResponderEliminarUm abraço
Claro que é, Elvira. :)
EliminarViaja-se pelo tempo...