Hoje estive vários minutos sozinho no café e, para variar, lá coloquei nas folhas de guardanapo "papel bíblia", algumas ideias que apareceram sem pedir licença.
Uma delas foi sobre a solidão que toma conta das grandes cidades, fazendo com que seja possível morrer, sem que quase ninguém dê por isso. E nem estou a falar das pessoas que ficam abandonadas dias e dias em casa, sem que a vizinhança perceba que já cá não estão...
Falo sim do meu vizinho do prédio da frente, que mesmo quando já não saia de casa gostava de nos acenar e oferecer um bom dia ou boa tarde como se vivêssemos numa aldeia. Ou do quase amigo, presença habitual deste mesmo café, com quem falei algumas vezes, para além do cumprimento diário.
Um dia notei as suas faltas. Mas quando perguntei por eles, soube que já cá não estavam há semanas...
Em ambos os casos não havia proximidade que se abeirasse da amizade. Havia sim uma simpatia mútua, que se revelava na troca de sorrisos e olhares, que ofereciam " boas energias" e tornavam o começo dos dias mais prometedores.
(Fotografia de Jean Loup Sieff)
Não é exclusivo das cidades.
ResponderEliminarCada vez que vou ao cemitério (de meses largos a meses largos) apanho um susto, quando percebo que afinal aquelas pessoas que pensava ter visto fazia dias afinal já cá não estão há tanto tempo, que chega a ser de anos.
Mas nas aldeias rapidamente se dá pela falta de alguém, se não morar num descampado, Carla...
EliminarDepende. A minha é muito esticada, só tem uma rua e é muito fácil para quem vive no vale (como eu) passar meses sem ver as pessoas que moram no alto. E às vezes elas nascem, casam, morrem, e a gente nem dá por isso. :)
EliminarHoje o Luís, abordou um tema que muito me faz pensar e temer! A solidão!
ResponderEliminarEssa 'doença' da alma, flagelo do século XXI!
O terceiro parágrafo é de uma realidade tão tocante que até dói...
Gostei muito da foto, ela ilustra bem essa troca de olhares, sem palavras, onde um simples sorriso pode aquecer a alma de um ser solitário a quem a vida já pouco tem para dar...
Bom Domingo, Luís! :)
É um problema real, Janita.
EliminarQuando somos tratados apenas como números, vamos-nos esquecendo que somos pessoas...
Acredita que no meu prédio precisamente no andar por baixo de mim, vivia uma senhora com o filho. Falei com ela na escada quase no final de Dezembro. Fui para Lisboa nesse dia onde passei o fim de ano com a minha irmã, no dia 1 andámos a passear e no dia 2 quando volto já a senhora estava sepultada.
ResponderEliminarA vida hoje em dia passa tão a correr que quase não damos pelo que se passa à nossa volta.
Um abraço e uma boa semana
É verdade, Elvira.
EliminarAcontece todos os dias...
Luís, falas de um friso da solidão, ainda assim talvez um dos mais visíveis, notados.
ResponderEliminarEstou em crer que a solidão é um dos maiores problemas e ameaças que se colocam à vida da maioria, uma vida que ultrapassa a barreira das actividades obrigatórias e rotineiras associadas à sobrevivência. E isto porque actualmente as redes de solidariedade são muito frágeis. Julgo ser bem notório e não vale a pena tapar o sol com a peneira.
Quanto a esse tipo de solidão que referes, parece-me estar cada vez menos associado ao tipo de organização do espaço e à dimensão dos lugares. Há um esvaziamento ao nível das relações interpessoais decorrente das novas dinâmicas sócio-económicas e culturais que julgo ser mais determinante.
Gosto muito da foto que escolheste e também tomo notas ou escrevo textos grandes no café. :)
Concordo contigo, Isabel.
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