O Eça qualquer coisa estava a passar na rua e ficou estarrecido a ver dois homens bem vestidos, entretidos, cada um a morder a sua meia. Embora visse pouca televisão, os seus rostos não lhe eram totalmente desconhecidos.
Um pouco mais à frente viu um pobre diabo, vestido de farrapos, completamente descalço a contar um pequeno molho de notas, sem conseguir esconder um sorriso largo, quase de quem ganhara a sorte grande.
Continuou a pensar nos dois homens que vira anteriormente e pela protuberância do nariz do mais pequeno desconfiou que era um tal de Portas. E outro só podia ser um Coelho, que já fora primeiro-ministro e gostava de fazer a corte a uma alemã loura, meio homem meio mulher, que tinha a mania que era a "rainha da Europa".
Mas ao cruzar-se com o conhecido Pacheco, cronista afamado pelas suas histórias de escárnio e maldizer, este contou-lhe que um tal António que tinha dado à Costa, além de conseguir ser o chefe de governo sem ganhar eleições também conseguira ver o orçamento, amaldiçoado por quase todos, ser aprovado em Bruxelas. E pelo caminho chegara a acordo com os donos da TAP, para que o controle da companhia dos aviões fosse administrado a "meias" pelo Estado e pela nova gerência.
E como resultado havia uma gentinha maluca que além de serem apanhados com frequência a dar cabeçadas nas paredes, também andavam por aí a comprar meias quase em decomposição, porque um fulano, que toda a gente chama de "Múmia", que vivia em Belém, disse que as ditas faziam milagres para a azia e dores de fígado, de dentes, de corno ou de outra coisa qualquer.
Quem não cabe de contente são os sem-abrigo, que começam a não ter mais meias daquelas que ficam de pé para vender. Até dizem que o Natal desta vez chegou muito mais cedo à Cidade. Nem sequer são obrigados a tomar banho para tomar um refeição decente ou a fazer uma vénia à sotora Jonet, "mãe dos pobrezinhos"...
(Óleo de Georges Coronimas)
A ironia do que escreves é excelente e muito, muito oportuna.
ResponderEliminarUm abraço, Luís.
Nunca vi uma direita tão trauliteira como esta, Graça.
EliminarO que fazem para ser poder. Mas as contas têm saído trocadas.
Assertivamente irónico. Gostei.
ResponderEliminarUm abraço e bom Carnaval
Temos de nos rir com isto tudo, Elvira. Caso contrário ficamos "azedos"...
Eliminar