quinta-feira, janeiro 22, 2015

O Velho Café com História e Estórias


«Nunca percebi muito bem porquê, mas há uns trinta anos, este café fazia parte dos roteiros intelectuais.» Sem deixar que o interrompesse, continuou. «Felizmente o tempo levou-os todos, nem o escritor silencioso, que escrevia naquela mesa do canto, escapou.» Esboçou um sorriso, mostrando as falhas dos dentes amarelos, pintados por uma vida abraçada ao café e ao tabaco.

«Também apareciam aqui duas gajas esquisitas, em oferta permanente, diziam ser cantoras. Não morriam de amores por mim, por eu ser mauzinho e gostar de falar dos discos que não gravavam. E pior ainda, não lhes pagava cafés nem lhes dava cigarros. Também deixaram de aparecer, quando perceberam que ninguém lhes comprava nada.» 

Reparei que tinha um hábito estranho, tirava os cigarros do maço para depois os voltar a meter no mesmo lugar. Como não podia fumar ali, brincava com os cigarros.

«Quem me chateava mesmo eram os poetas. Gostavam de se ouvir e diziam poemas como se estivessem num palco. Eram quase todos maricas, daqueles que fazem questão de publicitar a opção sexual.» Apeteceu-me provocá-lo e disse-lhe que não gostava deles por serem homossexuais, não tinha nada a ver com a poesia.

«Também é verdade. Mas olhe que aquilo que eles diziam não era poesia, não fazia sentido nenhum.» 

Voltei a provocá-lo, dizendo que a poesia devia ser melhor que aquele silêncio que se ocupava das mesas vazias.

Coçou a cabeça antes de responder. «O dono disto deve ser tolinho. Se tivesse juízo, já tinha fechado o café há dois ou três anos.»

Com esta calou-me. Mas ainda bem que há teimosos...

O óleo é de Brett Amory.

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