Na apresentação do meu caderno, "Ginjal 1940, poemas dois", tive de explicar que a "Pensão Bom Gosto" não era um "bordel", era mais o que hoje chamamos de "motel" (rima e é verdade...). Não havia por lá meninas à solta, havia apenas quartos vagos, que se alugavam quase por breves momentos.
Claro que não testemunhei (nessa altura nem conhecia o Ginjal...), apenas escutei. E escrevi isto:
pensão bom gosto
A mulher que
apareceu no postigo
Disse que
aquilo não era bem uma pensão
eu sabia mas
fiz-me desentendido,
saciava-se
mais o corpo que o coração.
«A clientela
é quase toda de Lisboa»,
sorriu-me ela
de uma forma enigmática.
Paguei o
quarto e subi sem geografias,
abraçado à
minha companhia simpática.
Depois de
abrir a porta e a deixar entrar
Dei alguns
passos em frente, até à janela.
Não tinha
pressa nem ninguém à espera,
abri a janela
e fiquei a ver as barcas à vela
Preferi
imaginar-me um cliente casual
e pedir à
minha companheira de viagem
para não
fechar completamente o cortinado,
porque não queria
deixar fugir a paisagem.
(O óleo é de Gina Higgins)
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