quarta-feira, janeiro 14, 2015

A "Pensão Bom Gosto" no Ginjal


Na apresentação do meu caderno, "Ginjal 1940, poemas dois", tive de explicar que a "Pensão Bom Gosto" não era um "bordel", era mais o que hoje chamamos de "motel" (rima e é verdade...). Não havia por lá meninas à solta, havia apenas quartos vagos, que se alugavam quase por breves momentos. 

Claro que não testemunhei (nessa altura nem conhecia o Ginjal...), apenas escutei. E escrevi isto:

pensão bom gosto

A mulher que apareceu no postigo
Disse que aquilo não era bem uma pensão
eu sabia mas fiz-me desentendido,
saciava-se mais o corpo que o coração.

«A clientela é quase toda de Lisboa»,
sorriu-me ela de uma forma enigmática.
Paguei o quarto e subi sem geografias,
abraçado à minha companhia simpática.

Depois de abrir a porta e a deixar entrar
Dei alguns passos em frente, até à janela.
Não tinha pressa nem ninguém à espera,
abri a janela e fiquei a ver as barcas à vela

Preferi imaginar-me um cliente casual
e pedir à minha companheira de viagem
para não fechar completamente o cortinado,
porque não queria deixar fugir a paisagem.
  
(O óleo é de  Gina Higgins)

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