Há poetas que são mais de dizer e outros mais de escrever.
Conheço uns e outros, normalmente não moram em ruas parecidas nem vestem roupas feitas no mesmo alfaiate.
Os que dizem, misturam os seus poemas com os que mais gostam, dos outros, quase sempre gente com mais de dois metros de poesia.
Os que só escrevem, gostam de falar de outras coisas, ou então de permanecer em silêncio.
Já me devem ter dito mais de cinco vezes a frase que escolhi para dar título a estas palavras. Recordei-a dita pela boca de uma amiga que na passagem dos anos 80 para os 90, morava numa das casas mais pequeninas que conheci (se bem que na China ou no Japão pudesse passar por um apartamento familiar...).
Era uma mulher cheia de particularidades, que também gostava de me ler poesia.
Curiosamente, a singularidade que mais recordo é o facto de termos dormido juntos também mais que cinco vezes e nunca a ter visto completamente nua. Só descobria a sua nudez através do tacto, era como se a luz tivesse algo de errado. Nunca levei isso para o seu corpo, que sabia que era bonito com e seu roupa...
Como costuma acontecer com os amores antigos, nunca mais nos encontrámos. O mais curioso, é que só penso nela por coisas muito singulares, diria mesmo, muito particulares.
E a frase que mais me aparece, misturada com o seu sorriso trocista e quase sem som, é esta: «Não te canses muito à procura da lógica das coisas...»
(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)
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