Ela disse-me esta frase ainda na cama.
É uma frase que se tornou corriqueira e que é usada pelos políticos, quando lhes convém, mesmo que a sua dança seja outra.
Não sei se ela e eles sabiam que estavam enganados.
Soube-o em Agosto, quando entrei num bar, que tinha a música rainha da Argentina a espreitar para a rua.
Embora estivéssemos a meio da tarde, o ambiente da sala era de quase média luz, contrastando com a luz e o calor fortes de um Verão que já cansava e que nos aguardava lá fora.
Sentei-me rente ao balcão, pedi uma cerveja e fiquei a olhar para as paredes cheias de gente, onde não faltava o Deus Maradona, embora o espectáculo decorresse no meio da sala. Fiquei entre o pasmado e o agradado, a olhar para o homem, sexagenário no mínimo, mais magro que elegante, que dançava sozinho entre o balcão e as mesas, um tango dos bons. Aliás deslizava...
Dançava muito bem, sozinho. Provavelmente, ainda dançava melhor com um par feminino à sua medida. Mas naquele momento só se encontravam homens naquele bar, cinco, como os dedos de uma mão.
Depois de beber a cerveja e de ver o homem sentado num dos cantos da sala, a refrescar-se com uma água com gás, paguei e vim embora. Antes de sair, fiz-lhe uma pequena vénia e ele levantou o copo, como se estivesse a fazer uma "saúde" aos dois.
Sai para a rua satisfeito e esclarecido. Afinal nem sempre são precisos dois para dançar o tango...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
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