Talvez a teimosia maior resida em quem faz teatro e raramente recebe convites para qualquer papel, grande ou pequeno nas telenovelas. Alguns fingem que não suportam a televisão, cada vez mais estupidificante, e acrescentam que nunca aceitariam fazer parte do elenco telenovelesco.
Dizem isto, mas contam os tostões até ao fim do mês, para sobreviverem com a dignidade possível (para alguns isso só acontece porque almoçam e jantam vezes demais na casa dos pais...). Comecei a contá-los e já ultrapassam os dedos das minhas duas mãos...
Olhando para a nossa realidade, só dois ou três "consagrados" é que se podem dar ao luxo de não fazer telenovelas. Mas para contrabalançar este "luxo", fazem publicidade, que normalmente dá mais dinheiro e menos trabalho, que as fitas por episódios que ocupam diariamente os serões televisivos portugueses.
Lá estou eu a querer dizer uma coisa e acabar por escrever sobre outra...
Eu só queria dizer que não há um actor português, das pequenas e grandes companhias de teatro, que não esteja farto e cansado, do disco riscado, que lhes é oferecido, quase todos os dias, de que "não há dinheiro" (quase sempre pelas autarquias...), porque é preciso alimentar as criancinhas nas escolas, sim a fome existe, em quase todo o lado; porque têm de fazer obras para realojar as pessoas; porque é preciso tapar os buracos da estrada, etc.. Ou seja, a cultura não consegue sair do último lugar das prioridades deste país, "cada vez mais de brincar"...
(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)
A desesperante frase ouvida, ao longo de tempos e tempos, e tempos: «um pão vale mais de um livro seja ele de quem for»?
ResponderEliminarA cultura - como actividade económica - tem em algumas das suas vertentes uma característica única: é suposto que os seus trabalhadores possam auferir remunerações bastantes, ainda que os seus produtos não tenham mercado!
ResponderEliminarE mais, tais produtos são vistos como os produtos a que têm direito os seus produtores.