domingo, outubro 06, 2024

«Quem tem público é o Benfica, o Porto e o Sporting.»


A conversa estava a ser bastante cultural, quase daquelas antigas, em que parecia que o tempo não escapava e nos dizia que era hora de irmos embora.

Quando chegámos aos "públicos", aliás, à falta dele, na maior parte das actividades culturais, se excluirmos os festivais de música, é que as coisas se tornaram mais complicadas...

O Pedro, por ser alguém mais dado à intelectualidade, começou por dizer que nunca nos preocupámos em criar, e educar, públicos, a ensinar as pessoas a perceberem e a sentirem o porquê das coisas. Coisas essas que nem sempre se explicam com facilidade...

Devia ter alguma razão. Pelo menos alguma.

A Carla disse que era mais profundo que isso. Era sobretudo uma mania portuguesa. Todos tínhamos a mania que cantar, tocar, actuar, pintar, escrever, estavam ao alcance de todos. Havia demasiada mediocridade nas culturas. Deu o exemplo das televisões que apadrinhavam aos fins de semana à tarde, muita desta gente, que cantava e tocava, sem ter o mínimo de qualidade exigível para se apresentarem em público. 

Pois, parece que o problema não é apenas das pessoas que não têm jeito. Há também quem alimente o "circo".

O Rui para salientar que era um problema de educação, deu como exemplo o futebol, que tinha o seu público, criado ainda antes de Abril.

Como gosto de "estragar prazeres", disse-lhe que estava enganado. A maior parte dos estádios e campos de futebol, de Norte a Sul, estão quase sempre vazios. E acrescentei: «Quem tem público é o Benfica, o Porto e o Sporting.»

Baralhei um bocado o jogo, mas claro, que começa tudo na educação. 

Claro que não descobrimos, qual é a melhor forma de "educar" as pessoas para se tornarem espectadores de teatro ou de outra arte ainda mais difícil... 

Todos estávamos de acordo que devia começar na escola. Mas quando e como?

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas. desta vez com legenda: "A cultura anda nua")


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