sábado, novembro 13, 2021

Anjos da Literatura (que também falam com Demónios)


De vez em quanto falo de literatura com amigos. Fico com a sensação de que é uma coisa cada vez mais rara, por não ter assim tantos amigos do meio. Claro que também conheço quem escreva, que gosta de falar de tudo menos de livros e de escritores. Fala-se de música, cinema, futebol e até política, mas sem bandeiras. Faz de conta que somos todos do Belenenses e do Livre.

Mas não era sobre isso que tinha pensado escrever. Como estive a folhear "O Ano da Morte de Ricardo Reis", lembrei-me das palavras que escutei na Casa dos Bicos, sede da Fundação José Saramago de Pilar Del Rio (em 2018), a sua última companheira e grande protectora de tudo o que tenha a ver com o nosso Nobel da Literatura.

Já me tinha cruzado com Pilar em duas ou três ocasiões e a imagem com que ficara da senhora era pouco agradável. Mas ali, sentado, a ouvi-la falar com tanto carinho, alegria, saber e até devoção, pensei que Saramago não podia ter ninguém melhor para divulgar e defender a sua obra e vida literária.

Nesse dia também fiz a visita guiada pela Lisboa do Ricardo Reis e de Saramago, que também foi bastante luminosa, graças à nossa guia e também a Fernando Pessoa e ao José.

Começo a escrever e vou para outras ruas, quando o que eu queria dizer era bastante simples. Não sei se os casamentos de Mécia com Jorge de Sena nem de Pilar com José Saramago foram felizes (mas tudo indica que sim...). Sei que tanto Mécia como Pilar são tidas como pessoas arrogantes (entre  outros adjectivos mais feios...), mas foram as melhores companheiras que eles podiam ter, para continuarem a sua caminhada literária. Se é extraordinária a obra publicada postumamente por Mécia de Sena, toda a actividade "saramaguiana"  de Pilar não lhe fica atrás.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


5 comentários:

  1. Sempre que escuto a Pilar ouço devoção, dedicação e amor a Saramago!

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    1. Foi o que senti, Severino.

      Contrariou a imagem pública que tinha dela, fechada e até arrogante, nas poucas vezes que nos tínhamos cruzado.

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  2. Dos amigos com quem falo apenas com um posso falar de Literatura (e como gosto de falar de livros), com quase todos os outros praticamente só futebol, corrupção e do quotidiano.

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    1. E cada vez há menos gente com quem falar de livros, Severino...

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    2. Verdade Verdadinha!

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